Elas são bem-nascidas, criativas, bonitas e ainda mesclam bom gosto e talento. Essa descrição vale tanto para as proprietárias das novas lojas de roupas que fazem a cabeça de mulheres antenadas e independentes quanto para suas coleções. Situadas em charmosos endereços entre os Jardins e o Itaim, bairros classe alta de São Paulo, são como oásis para quem quer sair do óbvio, ou não se enquadra no perfil “fashion victim”. A pioneira no setor é a Raia de Goye, das sócias e amigas de infância Ana Paula Raia, Fernanda de Goye e Ana Paula Vilela, que acaba de completar dois anos e quatro coleções de existência. Em seguida foi criada a Wardrobe, do casal de namorados Cris Barros e Tato Malzoni em parceria com a também amiga de infância Carla Lério. A mais recente, a Adriana Barra, veio em carreira solo e ainda não fez aniversário. São lojas com jeitão de butique fechada – sem vitrines, com manobristas e em endereços reservados – que fogem das tendências ditadas pelos grandes nomes da moda internacional em plena terra da São Paulo Fashion Week.

Muitos habituées dos desfiles, é bom lembrar, são hoje público cativo dessas lojas, que conquistaram ainda clientes de grifes badaladas. Sem pretensão, estratégia de marketing ou etiqueta aparente, criaram suas próprias identidades e até por isso dividem páginas em conceituados editoriais com grifes internacionais. Para se ter uma dimensão do sucesso, a Raia de Goye acaba de ser procurada pela loja inglesa Selfridge. Mas nada aconteceu por acaso. Antes de realizar o sonho de ter seu próprio negócio, essas jovens – todas têm menos de 30 anos – já acumulavam grande conhecimento de mercado. Cris Barros, da Wardrobe, estudou moda no conceituado Instituto Mariggone da Itália e trabalhou anos no marketing de importantes grifes, como a Zoomp. As amigas Fernanda de Goye – pós-graduada em moda pelo badalado Fashion Institute of Technology (FIT), de Nova York – e Paula Raia faziam parte da criação de duas marcas consagradas, a Daslu basic – a linha básica da famosa butique – e a Mixed, respectivamente. Adriana Barra, por sua vez, brilhou com seu trabalho de conclusão de curso, na respeitada faculdade de moda Santa Marcelina em São Paulo. Para fazer sua primeira coleção, em vez de tirar referências em nomes como Dolce & Gabana, o que é comum no curso, ela criou um personagem, o qual batizou de Isabella, que representa 40% do que ela é e 60% do que gostaria de ser.

Após a surpresa veio a admiração da banca, e Adriana recebeu
convites para atuar em diversas grifes. Passou pela Quick Silver –
marca de surfwear – e trabalhou com direção de arte antes de montar
em definitivo o lar de Isabella – que virou o espírito da loja. Para Adriana, o personagem tem perfil psicológico bem traçado, é uma jovem fotógrafa que viaja pelo mundo a trabalho e aproveita para procurar seu grande amor. “Em suas viagens, ela leva na roupa lembranças de sua casa. Na loja, que é a sua casa – tanto que é ambientada com quarto, sala, cozinha e banheiro –, estão peças que remetem àquilo que ela está vivenciando”, explica Adriana, referindo-se aos “temas” de suas coleções. Na última, coincidentemente, Adriana se inspirou no livro Memórias de uma gueixa, de Alphones Mucha, e resolveu mandar Isabella para o Japão, com a forte tendência oriental que invadiu as vitrines brasileiras. No entanto, os modelos de Isabella são exclusivos e confeccionados
com tecidos importados do roteiro da personagem. Ou seja, se o “alter ego” da estilista estiver no Havaí, os tecidos que vão rechear as
araras da loja virão de lá.

Se Adriana personificou seus anseios em uma personagem para fugir do óbvio, a Raia de Goye se inspira nos desejos das proprietárias. A coleção da marca é desenvolvida em cima daquilo que elas estão a fim de vestir. “Estávamos cansadas
de ver mulheres de diferentes personalidades vestidas como se estivessem uniformizadas. Elas não tinham opção. Ou se enquadravam
na tendência ou estavam fantasiadas. E nós, querendo ou não, éramos inseridas nesse contexto”, conta Ana Paula Raia. Dessa forma, as estilistas presentearam-se com uma alternativa. “Quebramos o vício
do vestir. Nossas clientes não temem mais a mistura”, acredita Ana
Paula Vilela, o lado administrativo da marca. “Aqui uma peça ‘casa’
com todas as outras peças. Não existe aquela história de uma calça
para uma blusa”, completa.

Já Cris Barros, da Wardrobe, não segue à risca a “regra” de fugir das tendências e desenha suas peças a partir de pesquisas feitas em cima do inevitável. “Se a minissaia está em alta, não farei uma coleção de saias longas e com caudas. Lapido o bruto e incluo meu toque particular”, diz. Mas as cores são de acordo com seu estado de espírito, não importa qual seja o tom do momento. “Nesta coleção estava em um momento muito bom. Feliz e muito segura, com vontade de usar cores”, conta a estilista.
Outro atrativo desse novo nicho da moda é certamente a exclusividade e a utilização de tecidos naturais. Como um código de ética, as três marcas prezam mais a exclusividade do produto e seu toque ao corpo do que a venda. Para tanto, possuem grades enxutas – pequena quantidade de cada exemplar –, peças únicas e grande rotatividade de modelos: uma média de 300 tipos por coleção que custam em média R$ 200. Um número surpreendente quando se trata de microempresas. E mais. Elas não arredam pé das lojas. Dessa forma, as proprietárias podem dar atenção direta a suas clientes, mantendo o clima do “receber em casa”. Assim, conquistaram desde mulheres independentes e cheias de estilo até famosas, como Fernanda Lima, Carolina Ferraz, Isabella Fiorentino e Ivete Sangalo. Elegância e sensualidade para ninguém botar defeito.