13/04/2011 - 12:10
Trechos de dois vídeos gravados por Wellington Menezes de Oliveira, supostamente dois dias antes do massacre de quinta-feira, foram divulgados ontem pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Ele fala de maneira vagarosa sobre os motivos que o teriam levado a matar os estudantes. A mensagem, aparentemente gravada por Wellington, foi deixada em dois arquivos de vídeo. Ele aparece sem barba, na frente do que parece ser um muro. O local e a fisionomia são parecidos com o que se vê em um perfil no Orkut atribuído ao assassino-suicida.
Nos trechos divulgados, diz que a ação no colégio não se resume a uma vingança pelo que teria sofrido na escola. "A luta pela qual muitos irmãos no passado morreram e eu morrerei não é exclusivamente pelo que é conhecido como bullying. A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência e da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem", diz.
Na segunda parte, o assassino dá detalhes do planejamento da ação. "Os irmãos observaram que eu raspei a barba. Foi necessário, porque eu já estava planejando ir ao local para estudar, ver uma forma de infiltração. Eu já tinha ido antes, muitos meses atrás. Eu ainda não usava barba. Eu fui para dar uma analisada."
O atirador relata uma ida anterior à escola. "Hoje, é segunda… terça-feira, aliás. Eu fui ontem, segunda. Hoje é terça-feira, dia 5. E essa foi uma tática para não despertar atenção. Apesar de eu ser sozinho, não ter uma família praticamente, eu vivo sozinho, e não tenho pessoas a dar satisfação. Mas como eu precisava ir no local e interagir com pessoas, para não chamar a atenção, eu decidi raspar a barba."
A Polícia Civil informou à noite que vai abrir uma sindicância interna para apurar o eventual vazamento dos vídeos que constam do inquérito sobre o massacre. Oficialmente, até 23 horas, não se sabia se o trecho divulgado na TV consta do inquérito oficial. "A ordem dada era que se mantivesse os vídeos em sigilo", informou a Assessoria de Imprensa. A apuração cabe à Corregedoria. Os delegados envolvidos no caso não foram localizados.
Inquérito
A chefe de Polícia Civil do Rio do Janeiro, Marta Rocha, disse nesta quarta-feira (12) que as imagens exibidas nessa terça no Jornal Nacional, de um vídeo de Wellington Menezes de Oliveira, o atirador da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste da capital fluminense, não fazem parte do inquérito da Divisão de Homicídios. Ela também negou ter havido vazamento de informações para a TV Globo.
"Essas imagens não fazem parte do HD do computador apreendido e levado para exame no Instituto de Criminalística Carlos Éboli. Os peritos, durante toda a madrugada, reexaminaram o material de informática recolhido pela polícia e concluíram que as imagens não fazem parte desse acervo", disse ela. Segundo a delegada, o inquérito que apura o massacre na escola está em fase de conclusão e caberá ao diretor da Divisão de Homicídios, Felipe Ettore, incluir ou não o vídeo do atirador no procedimento.
A chefe de Polícia Civil falou com a imprensa após a missa de sétimo dia celebrada pelo arcebispo do Rio de Janeiro, d. Orani Tempesta, seguida de ato ecumênico, em frente ao colégio. Durante as cerimônias, dois helicópteros da Polícia Civil jogaram pétalas de rosa sobre o público, estimado em 2.500 pessoas, de acordo com a Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Vários parentes de vítimas da violência estavam presentes, inclusive Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabela Nardoni, que morreu em 2008, aos cinco anos de idade, ao ser jogada de um prédio em São Paulo. O pai e a madrasta de Isabela, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, cumprem pena pela morte da menina.