destaque-447.jpg 

O presidente da associação dos familiares de vítimas do voo AF 447, Nelson Faria Marinho, quer que as caixas-pretas do Airbus A330 da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 31 de maio de 2009 sejam periciadas pelo órgão técnico dos Estados Unidos. Embora as caixas-pretas ainda não tenham sido identificadas, Marinho descarta a possibilidade de elas não saírem do mar junto com os destroços já identificados. "As buscas já localizaram a cauda da aeronave e é lá que as caixas-pretas ficam na maioria dos aviões", argumenta o presidente da associação das famílias brasileiras.

Com a análise do conteúdo das caixas-pretas, de acordo com as opiniões técnicas que Nelson Marinho coletou antes de viajar a Paris, será possível obter o registro do que aconteceu nos últimos momentos do voo que fazia a rota Rio-Paris, momentos depois de ultrapassar a linha do Equador, onde a aeronave caiu.

Nelson Faria Marinho acredita que os dados apenas confirmarão as evidências que as associações de familiares já conseguiram obter através de entrevistas a pilotos franceses e coletando depoimentos de técnicos em aviação. "As caixas-pretas vão comprovar que a Air France não dava manutenção adequada e que havia defeito na bússola e em outros equipamentos da aeronave", garante.

A convicção de que conhece o resultado final da perícia é tanta que Nelson Faria Marinho levanta suspeitas para a possibilidade das investigações francesas apontarem dados conflitantes. "A Air France é uma companhia na qual o governo francês tem participação", diz. Ele afirma que o risco de se obter um dado diferente das evidências já levantadas reforça a necessidade da análise do conteúdo das caixas-pretas por americanos. "Os Estados Unidos são um país neutro nesse caso e eles têm capacidade técnica para o serviço", afirma.

Marinho e os representantes de associações de familiares de outras três nacionalidades tiveram uma reunião com o secretário de Estado do governo da França, Thierry Mariani, na manhã de segunda-feira. No encontro, também foi solicitado que os restos mortais de passageiros e tripulantes encontrados junto aos destroços fossem levados para o Recife (PE).

O presidente da associação brasileira acredita que os corpos já passaram por desgastes demais ao permanecer por quase dois anos a 3,9 mil m de profundidade no meio do mar e considera o traslado a Paris uma agressão a mais. "Isso é desnecessário. A identificação pode ser feita no Recife, como ocorreu no primeiro momento", pediu. Ele foi informado, pela diplomacia francesa, que os corpos retirados seriam imediatamente levados para perícia de identificação.

As primeiras buscas realizadas logo depois do acidente, em junho de 2005, encontraram 50 corpos entre os 228 passageiros e tripulantes que estavam a bordo do voo 447 da Air France. A identificação de cada pessoa foi feita no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife.

O acidente

O avião da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy – Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o voo fez o último contato via rádio com o Centro de Controle de Área Atlântico (Cindacta III). O comandante informou que, às 23h20, ingressaria no espaço aéreo de Dakar, no Senegal. Às 22h48 (horário de Brasília) a aeronave saiu da cobertura radar do Cindacta.

A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato. Os fragmentos dos destroços foram encontrados cerca de uma semana depois no meio do oceano pelas equipes de busca brasileiras. Mas as caixas-pretas, assim como a maior parte da aeronave, não haviam sido localizadas. Das 228 vítimas, foram resgatados apenas 50 corpos.

Dados preliminares das investigações feitas pelas autoridades francesas revelaram que falhas dos sensores de velocidade da aeronave, conhecidos como sondas Pitot, parecem ter fornecido leituras inconsistentes e podem ter interrompido outros sistemas do avião. As sondas permitem ao piloto controlar a velocidade da aeronave, um elemento crucial para o equilíbrio do voo. Mas investigadores deixaram claro que esse seria apenas um elemento entre outros envolvidos na tragédia. Em julho de 2009, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores – até então feitos pela francesa Thales – por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar.