Menos de seis horas depois do atentado que atingiu a sede
da Organização das Nações Unidas em Bagdá, um ataque suicida explodiu um ônibus repleto de judeus ortodoxos em Jerusalém. Vinte pessoas morreram, entre elas seis crianças, e mais de 100 ficaram feridas.
De imediato, o Exército de Israel cercou cidades palestinas, aumentou a vigilância nos postos de checagem e suspendeu as negociações para devolver o controle de cidades ocupadas na Faixa de Gaza, como Jericó. Dois dias depois, a represália continuou, com um helicóptero israelense disparando cinco mísseis contra o carro do engenheiro Ismail Abu
Shanab, um dos principais líderes políticos do grupo radical islâmico Hamas. Na esteira da morte de Abu Shanab e de dois seguranças
que o acompanhavam, os principais grupos extremistas palestinos anunciaram o fim da trégua declarada em 29 de junho. Considerado
por analistas políticos como um moderado, Abu Shanab tinha sido
um dos artífices da frágil trégua.

A sucessão de ataques mútuos atingiu em cheio o “mapa da estrada”, como é chamado o plano de paz patrocinado pelos Estados Unidos, União Européia, Rússia e ONU. “Fora do mapa há um penhasco de que os dois lados cairão. Acredito que ambas as partes entendem que deve ser encontrada uma forma de seguir adiante”, afirmou o secretário de Estado americano, Colin Powell, logo após se reunir com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para discutir a retomada da violência no Oriente Médio. Enquanto isso, aumentava o retrocesso nas negociações entre o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, e seu colega palestino Mahmoud Abbas, conhecido como Abu Mazen. Com baixo apoio popular, Mazen recorreu ao isolado, mas nem por isso pouco influente, Yasser Arafat para tentar achar uma forma de combater os líderes radicais palestinos. Até os Estados Unidos, que vêm tentando marginalizar Arafat, apelaram para o veterano dirigente palestino. “Conclamo o presidente Arafat a trabalhar com Mazen para que cessem o terror e a violência e haja avanços no mapa da estrada”, disse Powell.

O apelo do secretário americano tem tudo para cair no vazio. A multidão que acompanhou o funeral de Abu Shanab na sexta-feira 22 clamava por vingança. “Nossos exércitos vão avançar. Somos os homens da noite escura”, ameaçaram seguidores do cortejo. Na véspera, o Hamas já havia lançado mísseis contra colônias judaicas, no que chamou de “resposta inicial” ao assassinato do líder político. Israel, por sua vez, fechou a principal estrada da Faixa de Gaza e prometeu não dar trégua no combate aos grupos extremistas palestinos. A paz na região parece estar cada vez mais distante.