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DEBATE
Na abertura do fórum, físicos, ambientalistas e filósofos renomados discutiram o tema "Respeitar e cuidar da comunidade da vida"

" Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro." Esse ultimato da ONU integra a Carta da Terra, documento endossado por 4,5 mil organizações não governamentais e que propõe as diretrizes para uma sociedade justa, pacífica e, sobretudo, sustentável. Foi com base nesses princípios que os mais conceituados ambientalistas, pesquisadores, cientistas, filósofos e economistas de todo o mundo se reuniram na semana passada, em São Paulo, no II Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade. O evento teve o apoio da revista ISTOÉ. Na maioria dos painéis, a crise econômica mundial serviu de pano de fundo para a troca de ideias sobre o papel do governo, da sociedade civil e das empresas na construção de uma sociedade mais sustentável. E o fórum concluiu que sustentabilidade significa a opção pelo desenvolvimento sem o comprometimento dos recursos para as próximas gerações – sejam eles naturais, econômicos ou intelectuais. Em comum, a mesma ideia: a crise pode servir como propulsora de uma nova mentalidade.

"Com a dificuldade econômica global, questões referentes à responsabilidade social e à sustentabilidade ganharam mais importância do que já tinham", disse Claudio Fritschak, consultor da mineradora Vale. Para a física e filósofa americana Danah Zohar é preciso alterar "no patamar mundial nossas suposições básicas de vida". Já o economista Edmund Phelps, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2006 (teoria das bases microeconômicas do desemprego e da inflação), defendeu a implantação de novas linhas de financiamento. Ele olha para o passado da história econômica das nações para projetar o futuro: "Devemos voltar ao século XIX, à época áurea da inovação, com empreendedores corajosos e até loucos que buscavam o novo". Ainda no campo da crise mundial, que agrava a urgência de um mundo sustentável e nos coloca, ainda mais, olhos nos olhos com essa questão, o educador colombiano Bernardo Toro reafirmou suas posições radicais: a crise pode servir para sepultar um modo de vida essencialmente competitivo. "Ou aprendemos a cuidar uns dos outros ou vamos perecer", disse ele. Os participantes do fórum falaram a uma plateia composta, sobretudo, por jovens – cerca de dois mil estudantes de universidades brasileiras, da América Latina e da Europa. "Recebo centenas de convites para conferências, mas o importante mesmo é estar aqui, diante da juventude. Minha geração começou o processo de tornar o desenvolvimento mais sustentável, mas agora cabe às novas gerações completar essa transição", disse à ISTOÉ o ambientalista cingalês Mohan Munasinghe, vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2007.

 
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"Estamos muito acostumados ao nosso complexo de inferioridade, e este momento do Brasil é um tapa na nossa autoestima. Vim ao fórum porque sou interessado no desenvolvimento do meu país e quero aprender com todas essas pessoas fantásticas que aqui estão"

Seu Jorge, músico

"O Brasil pode liderar o mundo no setor ambiental"

Ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2007 e vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o cingalês Mohan Munasinghe é um dos mais conceituados intelectuais na área do meio ambiente. Dirige o Instituto de Desenvolvimento Munasinghe, no Sri Lanka, e o Instituto de Consumo Sustentável na Universidade de Manchester, no Reino Unido. Em entrevista à ISTOÉ, ele fala sobre educao Brasil e como se faz o desenvolvimento sustentável no dia a dia.

ISTO É – Quais as pessoas que serão mais afetadas com o aquecimento global?
Munasinghe – As mudanças climáticas afetarão as partes tropicais do mundo e a maioria das pessoas que vive nessas regiões é pobre. Elas não têm dinheiro para se proteger e moram em áreas de alto risco. É preciso educar os países ricos para a redução de emissão de CO2. A mídia tem um papel fundamental nisso.

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ISTO É – Barack Obama representa uma mudança?
Munasinghe – Não devemos colocar todas as expectativas em uma pessoa.Obama resolve o problema dos EUA. Cada país precisa resolver o seu próprio problema. Ele representa uma grande mudança porque apresenta novas políticas. As promessas são boas, mas agora aguardamos por ação.

ISTO É – O Brasil pode liderar uma nova política climática mundial?
Munasinghe – Acho que o Brasil tem um desenvolvimento mais sustentável na economia, na sociedade e no meio ambiente. Há recursos humanos muito bons no Brasil e o País tem grande potencial para ser líder do mundo nesse setor. Até porque se esgotou a filosofia "greed is good" (ambição é bom), de Ronald Reagan e Margareth Thatcher.

ISTO É – O que é desenvolvimento sustentável no cotidiano?
Munasinghe – Não podemos ficar sentados filosofando, temos de ir às ruas. As pessoas não devem se sentir impotentes, porque não são apenas políticas públicas que vão resolver os problemas. Para gerar mudanças é preciso transcender barreiras e a primeira é a do tempo: não pensar em prazos. A segunda é a do espaço: não pense em sua comunidade, mas no mundo. E, por último, é preciso parar de pensar em si mesmo.