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Tony Carrado fez grande sucesso na novela Mandala, da Globo, graças a um bordão. Vivido por Nuno Leal Maia, o personagem soltava um sonoro “minha deusa” toda vez que dirigia a palavra à sua amada Jocasta, interpretada por Vera Fischer. Como na lenda grega, Jocasta acaba se apaixonando pelo próprio filho (Édipo), vivido 20 anos atrás na trama por Felipe Camargo. Na tragédia grega, o final da história é bastante conhecido: ela se suicida e Édipo fura os olhos, inconformado por não ter reconhecido a mãe. Na novela Jocasta e Tony Carrado ficam juntos só no último capítulo. Mas por que Jocasta se apaixonou por Édipo?

A mitologia explica não só essa, mas as histórias de amor da vida real. É o que garantem as escritoras Márcia Bittar, especialista em sexualidade pela USP, e Beth Nanni, que há 20 anos orienta grupos de estudo em psicologia e mitologia. As duas assinam o livro Os deuses e o amor – como a mitologia explica e orienta nossas escolhas e relacionamentos (Pretígio Editorial, 160 págs., R$ 29,90), que chega nas livrarias na segunda-feira 6.

Metáforas de imortais dotados de ciúme, inveja, traição, depressão, violência e outros traços típicos de seres humanos, os 18 deuses gregos (dez masculinos e oito femininos) escolhidos por Márcia e Beth emprestam seus arquétipos para que nós, mortais, possamos nos identificar com eles – e ainda descobrir qual o nosso par perfeito. Mitologia, geralmente, é um assunto denso, mas com um texto bem-humorado, elas conseguem trazer o tema para próximo do ser humano e do cotidiano.

“Quando conhecemos os arquétipos e os deuses, nos conhecemos melhor e o outro também. E é óbvio que o relacionamento fica mais fácil. O conhecimento aproxima”, afirma Márcia, da USP.

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Veja o exemplo de Zeus. No livro, a figura mitológica é retratada fielmente. Está lá que ele é o deus supremo que distribui o bem e o mal e governa a humanidade do Monte Olimpo, bem como toda a genealogia dele. Mas as autoras destrincham também o Zeus de carne e osso, cujo perfil psicológico é traçado considerando-se a relação dele com o sexo, os filhos, a parceira e a profissão. Nesse contexto, o Zeus-mortal desperta o fascínio das mulheres, mantém a potência sexual mesmo em momentos de crise financeira ou pessoal e jamais desampara os filhos.

“Eu sou um todo-poderoso pai de família. Protejo um filho a qualquer custo”, diz José Eduardo Reis, 35 anos, pai de uma menina de 13. Empresário paulista e guitarrista, ele conta que exerce um fascínio sobre as mulheres – e muito por conta desse status musical. “Sempre fui uma figura rodeada por mulheres, sejam amigas ou namoradas.” José Eduardo é, portanto, o típico homem-Zeus.

Homens com esse arquétipo ou o do deus Apolo, que exige admiração por seu desempenho sexual, são incompatíveis com uma mulher caseira, que gosta de cuidar do lar e de trabalhos manuais. Identificada pela deusa Héstia, essa mulher pode ainda ficar sem sexo por meses, segundo Os deuses e o amor. “Não daria certo mesmo”, comprova o empresário paulista. Ah, se Tony Carrado tivesse descoberto isso antes!