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O químico Antônio Sérgio Reymol Jr., 28 anos, trabalha boa parte do tempo na rua. Atuando como supervisor de vendas de uma empresa multinacional, ele via ja o País todo em busca de novos negócios. "Tenho um ritmo alucinante de vida", conta. Casado e pa drasto de uma menina, ele ainda faz cursos de aperfeiçoamento para não perder espaço no mercado de trabalho.

É com esse movimento todo em seu cotidiano que Antônio também administra, há oito anos, uma doença da qual é portador, a leucemia mielóide crônica. Trata-se de um dos tipos de câncer que afetam a medula óssea – o órgão responsável pela fabricação das células sanguíneas – e que começa a ser tratado como uma doença de fato crônica, como são a diabete e a hipertensão. Isso quer dizer que os doentes não estão curados, mas convivem anos a fio com o tumor, desde que controlado.

O fator decisivo para tornar isso possível foi a chegada do imatinibe, remédio lançado em 2001 e considerado um marco por ter sido o primeiro de uma moderna geração de drogas que atingem alvos específicos dos tumores, poupando células saudáveis. Antes do medicamento, as opções para os pacientes eram o interferon, a quimioterapia e o transplante de medula óssea. Todas têm por objetivo curar a doença, mas a eficácia deixa muito a desejar. No transplante, por exemplo, o índice de mor talidade é de cerca de 30%.

Primeiro com o imatinibe, e depois com a entrada de outro remédio, o desatinibe, o quadro mudou. Hoje há pacientes vivendo – com a leucemia – há dez, 11 anos. Não estão livres da doença, mas a maioria tem uma vida normal e toma apenas um comprimido por dia – embora alguns sofram mais com os efeitos colaterais, como um cansaço mais acentuado. A partir deste mês as expectativas melhoram ainda mais com a chegada de uma terceira opção, o nilotinibe, indicado pa ra quem desenvolveu resistência ao imatinibe.

O fato de a doença ter se tornado crônica traz alguns desafios, comuns a enfermidades desta categoria. O primeiro é fazer com que o paciente siga corretamente o tratamento. "Como eles ficam bem, às vezes se esquecem de tomar o remédio", diz a hematologista Leila Magalhães Pessoa de Melo, do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo. O outro obstáculo é vencer o preconceito da sociedade. O consultor H. F., 30 anos, por exemplo, portador há nove anos, tem medo de expor sua condição. "Procuro não contar", diz. "Pode atrapalhar minha carreira e minhas relações pessoais", diz o rapaz, que pratica boxe para ajudar a manter a saúde.

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TEMOR O consultor H. F. tem medo de expor sua condição. Acha que pode atrapalhar sua carreira