A avaliação que faço do ano que findou e as perspectivas que tenho para 2002 reúnem dois sentimentos opostos, mas não necessariamente contraditórios: desgosto e esperança. Desgosto, porque 2001 foi mais um ano difícil e sofrido para o nosso povo e crítico em termos mundiais. Esperança, porque a sociedade civil evoluiu em sua consciência e organização, no Brasil e em várias partes do mundo, e busca novas alternativas para conquistar uma vida melhor para todos.

Infelizmente, 2001 ficará marcado na história pelos atentados terroristas em Nova York e Washington e pela reação belicista dos Estados Unidos, buscando impor ao mundo sua estratégia de hegemonia unipolar. Isso em nível internacional. Em termos de Brasil, ficará marcado pela extrema vulnerabilidade da nossa economia às crises externas, pelo agravamento dos problemas sociais, em especial o aumento do desemprego e da violência, e pela irresponsabilidade da falta de investimentos no setor energético, que levou o País ao vexame do apagão. A submissão da política econômica do governo FHC à lógica perversa do capital financeiro e a incompetência na gestão dos recursos públicos têm sido, sem dúvida, as principais causas da insuportável situação interna em que nos encontramos.

Para ficar no exemplo interno mais grave, que mexeu com a vida de grande parte da população: o povo brasileiro teve de fazer um sacrifício enorme para reduzir os gastos com energia elétrica e, ainda por cima, vai ter de pagar o que as empresas deixaram de faturar por incompetência delas próprias e do governo. Um absurdo.

Em relação às ações terroristas, estou certo de que o PT agiu corretamente ao repudiar de modo absoluto os atentados e, ao mesmo tempo, ao alertar que não seria com guerras que o mundo resolveria esse grave problema. Quando terminar essa ofensiva bélica dos Estados Unidos, infelizmente todos irão constatar que muitos inocentes também foram vítimas dessas ações e o clima de ódio e violência não terá diminuído no mundo.

Vou destacar apenas dois episódios ocorridos em 2001 que me deixaram satisfeito e esperançoso: a pressão da sociedade contra irregularidades no Senado, o que culminou com a renúncia (para fugir da cassação) de três importantes senadores de partidos da base governista; e algumas iniciativas do movimento sindical brasileiro.

A Central Única dos Trabalhadores – CUT – voltou a ocupar um espaço significativo na sociedade brasileira. O funcionalismo público e os professores universitários federais deram uma demonstração de consciência e combatividade, exigindo, por meio de greves, aquilo que o governo lhes havia tirado. Esse foi certamente um dos momentos mais importantes do movimento sindical brasileiro nos últimos anos. Sem falar também da extraordinária atuação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na pessoa do companheiro Luiz Marinho, presidente da entidade, que conseguiu reverter e minimizar os efeitos da dispensa de três mil trabalhadores anunciada pela Volkswagen do Brasil.

O PT terminou 2001 também com razões de sobra para acreditar que 2002 será um ano infinitamente melhor e mais promissor do ponto de vista da perspectiva de o partido e seus aliados chegarem ao poder. Seja em maior número de governos estaduais, nas assembléias legislativas, na Câmara e no Senado e, é claro, na Presidência da República.

Em relação à situação política brasileira, a impressão que fica é a de que o governo continua demonstrando que não conhece o Brasil de fato e não tem compromisso com a solução dos problemas do povo brasileiro. E, em vez de propor políticas estruturais para mudar a situação, o que faz é perpetuar a lógica das políticas compensatórias, dando migalhas para o povo, achando que com isso pode protelar indefinidamente a situação. Esse caminho não é bom e a situação na vizinha Argentina deixa isso muito claro.

Já 2002 promete muito ao Brasil. O PT e o conjunto da oposição têm tudo para entrar no novo ano convencidos de que chegou a vez de ganhar as eleições para colocar em prática tudo aquilo que temos sonhado durante tanto tempo.

Estamos, no entanto, conscientes de que o jogo ainda não começou, mas vai começar logo e será pesado. Já estamos presenciando manipulações nas pesquisas e vendo determinados setores dos meios de comunicação aderirem de forma escandalosa ao governo. Mas também estamos confiantes de que o PT, na pior das hipóteses, deverá estar no segundo turno. E as condições do partido são as melhores não apenas por conta das pesquisas, mas principalmente por conta do nosso amadurecimento e de nossas experiências administrativas bem-sucedidas. E é exatamente esse sucesso do PT que tem provocado a ira de grande parte dos conservadores contra o nosso partido. Basta ver o que fizeram com o PT do Rio Grande do Sul ou o programa político do PFL na tevê, em São Paulo, para que se tenha uma idéia de como eles pretendem conduzir as campanhas em 2002.

Nossa esperança é de que possamos garantir em 2002 o que o povo brasileiro mais precisa: retomar o desenvolvimento com distribuição de renda, geração de emprego, com mais salário, com mais habitação e sobretudo com cidadania e soberania nacional.