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Renovador do tango na década de 1950, o músico argentino Astor Piazzolla ousou incorporar ao ritmo portenho elementos do jazz e da música erudita. Foi criticado pelos tradicionalistas, mas hoje é tido como uma referência desse gênero musical. Não está sendo diferente com os grupos do chamado "eletrotango" ou "tango eletrônico", como Gotan Project, Narcotango e Ultratango, responsáveis pelo que se considera a terceira grande "fase" da música de salão argentina. Quando tomaram a cena, no fim dos anos 1990, essas bandas foram tão criticadas quanto Piazzolla por suas inovações.

Mesmo assim, a mistura do som do bandoneón às batidas eletrônicas ganhou o mundo, inclusive o Brasil, onde o Bajofondo, outro de seus principais representantes, se apresenta entre os dias 7 e 10 de maio com a turnê do CD Mar dulce. Criado em 2002, o grupo é formado por oito músicos – entre eles o argentino Gustavo Santaolalla, um dos mais requisitados compositores de trilhas de cinema em Hollywood. Ele recusa o rótulo de eletrotango dado à sua banda.

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OS PIONEIRO S A banda Gotan Project foi a primeira a usar elementos eletrônicos no ritmo de Carlos Gardel. Hoje o trio utiliza até elementos de hip-hop em suas músicas

"Não fazemos nem tango nem música eletrônica. Misturamos diversas influências, inclusive brasileiras, por isso não gostamos quando dizem que tocamos tango eletrônico", disse Santaolalla à ISTOÉ. "Numa turnê pelos EUA um jornal de Chicago nos chamou de banda de rock." Como o Bajofondo, que esteve presente na abertura da novela da Rede Globo A favorita, outros grupos que se fizeram notar pela mistura de influências hoje tentam se livrar desse rótulo por considerá-lo limitado.

É o caso do Gotan Project, trio formado em 1999 em Paris pelos DJs Philippe Cohen Solal e Christoph H. Muller e pelo músico argentino Eduardo Makaroff. Seu primeiro disco, La revancha del tango, de 2001, foi feito para as pistas de dança, mas o segundo, Lunático, de 2006, se aprofunda no universo do tango – além de trazer influências de outros ritmos, como o hip-hop. "Como fomos os primeiros a fazer isso, nos orgulhamos de ter inspirado outras pessoas a levar o tango à época dos computadores", diz Makaroff.

A renovação provocada por essas bandas não é apenas musical. Segundo Eduardo Muszkat, fundador da gravadora MCD (que distribui os CDs do Gotan Project no Brasil), também o público é novo. "Muitos jovens que lotam os shows desses grupos nem sabiam o que era tango", diz ele. Idealizador da banda Narcotango, Carlos Libedinsky concorda: "Os salões de baile precisavam de uma sonoridade que os vinculasse ao século XXI e foi pensando nisso que comecei a fazer experimentações com a música eletrônica." Mais uma vez, a mistura deu certo.