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Ruas deformadas e esburacadas são uma dor de cabeça constante para os motoristas brasileiros e muitas vezes resultam em acidentes ou prejuízo financeiro. Por que, afinal, não conseguimos ter ruas de Primeiro Mundo? “A questão é complexa”, diz Laura Goretti da Motta, coordenadora do Laboratório de Misturas Asfálticas da Coppe, órgão ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo ela, o asfalto produzido pela Petrobras está no mesmo nível do usado nos Estados Unidos e na Europa, exemplos de ruas lisas e sem buracos. Mas nem sempre os pavimentos são construídos como deveriam. “O que está na rua não é só o asfalto derivado do petróleo. Só cerca de 5% do pavimento vem dele, o resto é brita (pedra). E você pode ter boas ou más misturas”, explica.

Para obter uma boa mistura é preciso técnica – e nem sempre as empreiteiras têm. A análise do tipo de solo, fluxo de carros e peso de veículos são fundamentais na hora de construir o pavimento asfáltico. Outra inimiga da rua lisinha é a falta de manutenção. “O ideal é que os pavimentos fossem refeitos a cada dez anos. Isso evitaria trincas que, com a chuva e o peso dos veículos, se transformam em buracos”, diz Laura. “Mas a maioria dos governos toca o problema como se apagasse incêndios. Há pouca manutenção e muita operação tapa-buraco.”

Com uma malha viária de 15 mil quilômetros, dos quais 14 mil asfaltados, São Paulo vê surgirem cerca de mil novos buracos a cada dia. Um programa da prefeitura iniciado em 2005 vai somar 573 quilômetros em 526 vias recapeadas, em um investimento de R$ 186 milhões até julho. Os cariocas também podem comemorar. É que, por causa das obras do Pan, o Rio deve gastar R$ 35 milhões com pavimentação urbana este ano, R$ 10 milhões a mais que em 2006.

Para José Tadeu Balbo, do curso de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da USP, o Brasil deveria se inspirar no que dá certo na Europa e nos Estados Unidos. Na Europa, antes de cada pavimento ser construído, há muita pesquisa de materiais e técnica. “Nós ainda estamos muito presos a tecnologias antiquadas. Falta o governo investir em inovação tecnológica”, diz. Nos Estados Unidos, a administração pública controla com mão de ferro o trabalho das empreiteiras. “Tem que fazer direito, senão existe multa e uma série de complicadores”, diz Balbo. Está na hora de o Brasil enfrentar esse problema de frente.

CARROS TROPICALIZADOS
Pavimentos ruins são tão comuns no Brasil que os carros europeus e americanos fabricados para o mercado brasileiro geralmente são “tropicalizados”. “Tropicalizar” um carro é adaptá-lo para rodar em países – geralmente, em desenvolvimento – cujas vias urbanas e estradas estão em condições precárias. No caso da francesa Citröen, os veículos vêm com suspensão reforçada e calibragem diferenciada. A americana Ford, além de adaptações na suspenção, trabalha com pneus com lateral reforçada e rodas desenhadas para responder melhor a impactos.