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CONFIANÇA As irmãs Noeli, piloto, e Joceli, navegadora, de Curitiba, até discutem dentro do carro. Mas nada abala a relação delas

Do alto de uma picape prata e imponente, Noeli Lara Ribeiro, 37 anos, confere os equipamentos que usará para controlar distância, velocidade e tempo dentro de seu carro, nas próximas quatro horas. No banco ao lado, sua irmã, Joceli, 41, checa todas as páginas com as indicações do percurso que mudará a cada minuto, exigindo concentração absoluta e rapidez. Elas não esquecem também de passar mais uma camada de batom, de ajeitar a pulseira de ouro e os óculos de sol de grife. As empresárias de Curitiba, no Paraná, se preparam para encarar a primeira das 11 etapas da edição 2009 do Rali Mitsubishi Motorsports, competição promovida pela marca automobilística, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, no sábado 25. Em 15 anos desde a criação do evento, o número de mulheres aumentou tanto quanto a importância da prova. Entre os mais de 1.500 atletas que participaram em quatro categorias, quase 30% eram do sexo feminino.

                                                  

  i111445.jpgA primeira vez que uma dupla de mulheres correu o rali foi em 1999. Dali em diante, muitas delas se motivaram e embarcaram na aventura. "Tem mãe e filha, irmãs, amigas", conta Corinna Souza Ramos, diretora de projetos especiais da Mitsubishi. "Outras formam duplas mistas com maridos, pais, irmãos", diz. "Elas não querem mais ficar esperando no hotel." A presença das mulheres levou à criação de um prêmio especial só para elas em 2007 – sem deixar de concorrer à premiação geral -, como um incentivo. As três primeiras colocadas recebem troféus. No final da temporada, a melhor equipe ganha uma viagem, que neste ano será para um resort em Minas Gerais. "Elas são tão capazes quanto os homens nesse esporte", afirma Lourival Roldan, diretor de prova. "O que precisa é de pensamento ágil e concentração."

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VAIDADE Lívia, com a amiga Aretha, a tia Tassiana e a mãe, Taisa, se preparam para a prova: maquiagem leve e vários cosméticos acompanham as atletas no carro

No caso da piloto, acrescenta Lourival, é necessário habilidade no volante para, por exemplo, segurar o carro nas curvas escorregadias de lama do terreno off-road. Quanto à navegadora, foco e capacidade para ler as coordenadas do trajeto no papel são fundamentais. E isso não é fácil. Porque o carro chacoalha, salta. Cabeça, joelho, braço, tudo bate. A reportagem de ISTOÉ acompanhou a dupla Noeli e Joceli na função de "Zequinha", aquele que vai no banco de trás, ajudando com algumas dicas. Como elas participavam do rali de regularidade – diferente do rali de velocidade – não podiam ultrapassar 70 quilômetros por hora. O Zequinha avisa quando o velocímetro está subindo demais. Também auxilia no controle do tempo. Desentendimentos não são incomuns.

 

"Tem que prestar atenção, Jô", diz Noeli, a mais competitiva, quando a irmã perde por alguns minutos o rumo entre os canaviais da fazenda em que acontecia o rali. "Podemos até discutir na hora", diz Noeli. "Mas fora do carro volta tudo ao normal." Joceli, que ensinou a irmã a dirigir, garante: "Sabemos separar. Nada afeta nossa relação." A família delas – mãe, irmãos, filhos – apoia a empreitada da dupla aventureira.

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EM FAMÍLIA Stella voltou a competir com o marido (acima) após o nascimento dos gêmeos Luiz Felipe e Maria Eduarda. "Esse esporte une as pessoas"

O caráter familiar é crucial para atrair as mulheres para o esporte. A dentista Stella Crosara Lopes, 35 anos, de Ribeirão Preto, realizava seu primeiro rali após a gravidez dos gêmeos Maria Eduarda e Luiz Felipe, de 4 meses. Ela participou por três anos das competições junto com o marido, Afrânio. Parou dois anos, por causa da gestação. "É um ambiente ótimo, saudável, que une as pessoas", diz Stella, que é navegadora. "E o melhor das provas é que meu marido tem que me obedecer a cada segundo", brinca. Aos 17 anos, a estudante catarinense Fernanda Becker foi apontada como uma das melhores navegadoras entre as presentes ao rali. Ela compete ao lado do pai, o empresário Acyr, há três anos. "Estamos quebrando um tabu de que mulher não aguenta esse tipo de esporte", diz Fernanda, que não faz ideia de qual faculdade vai cursar, mas garante que no rali, com certeza, irá continuar.

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PROMESSA
Aos 17 anos, Fernanda compete ao lado do pai. Compenetrada, ela é reconhecida como uma das melhores navegadoras do rali

No mundo 4×4 a vaidade não fica de lado. A médica Tassiana Pazim, 35 anos, pilotava ao lado da sobrinha, a advogada Lívia Margutti, 26 anos, navegadora. Completavam o time a mãe de Lívia, a dentista Taisa, 53, e a amiga Aretha Deperon, 24, ambas como Zequinhas. Todas carregavam cosméticos na bolsa. Acessórios e maquiagem leve compunham o visual. "Nada impede a conciliação do rali com a feminilidade", diz Lívia. A comprovação dessa teoria foi o pódio: elas venceram o primeiro lugar na premiação feminina da categoria turismo light, assim como Noeli e Joceli ganharam o feminino da categoria turismo. Sinal de que estão adorando cair na lama.


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