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SEDE DE VELOCIDADE Aos 38 anos, José Leite Neto atravessa a cidade de São Paulo em uma hora – sempre a bordo de sua bicicleta híbrida. "Tem o conforto da mountain bike e a velocidade da speed", diz

Rápidos, eles chegam a marcar 50 quilômetros por hora no velocímetro. Em plena forma física, percorrem a média de 80 quilômetros por dia. Acessíveis, são os mais baratos do mercado na entrega de encomendas.

E, principalmente, ecológicos, não poluem o meio ambiente. Trata-se dos ciclistas mensageiros, que se consolidam como entregadores e já ameaçam a hegemonia dos motoboys nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Tradicionais na Europa, as primeiras empresas de bikeboy surgiram no País há dez anos. Mas só deixaram de ser iniciativas isoladas para ganhar mercado nos grandes centros e competir com os entregadores motorizados de um ano para cá. Na cidade de São Paulo, há quatro empresas que oferecem o serviço de leva e traz por meio das bicicletas. A EcoBiker, fundada há um ano, é formada por um quadro de cinco ciclistas – dois pedalam bicicletas do tipo mountain bike (mais robustas) e os outros três, da categoria speed (mais rápidas) – e está aberta a contratações. Uma quinta, a Bless Bike, deve começar a operar nos próximos meses. No momento, fecha contrato com empresas e busca no mercado 12 profissionais.

"É um sonho antigo, faço isso por ideologia e por amor à bicicleta", diz Fernando Pulegio, técnico em segurança no trabalho.

Boa parte da clientela dos ciclistas mensageiros é constituída por pessoas e empresas engajadas em questões ecológicas. É o caso do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. "A escolha das bicicletas tem impacto positivo na cidade, uma vez que elas não poluem", diz Renato Kaida, gerente administrativo do hospital. Segundo a Cetesb (agência ambiental paulista), uma moto nova polui seis vezes mais do que um carro recémsaído de fábrica, despejando na atmosfera 2,3 gramas de monóxido de carbono por quilômetro rodado.

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O NOVATO E O EXPERIENTE Fernando Pulegio (à dir.) é o próximo a abrir uma empresa de bikeboys em SP e Ítalo Teixeira fundou a Transpedal em BH

Bandeiras verdes à parte, os clientes dos bikeboys se mantêm fiéis graças à eficiência deles. Para quem não dá crédito à agilidade dos condutores, basta observar o resultado dos dois últimos Desafio Intermodal, que ocorreram em São Paulo. Anual, a prova compara o tempo que as diferentes modalidades de transporte (ônibus, metrô, carro, bicicleta e até pessoas a pé) levam para percorrer determinado trecho da cidade. Em 2007 e 2008, as bicicletas foram as mais rápidas. "De nada vale o argumento do ecologicamente correto se a entrega chegar atrasada", diz Ítalo Teixeira, dono da Transpedal, em Belo Horizonte. Uma das mais antigas do País, a empresa possui seis ciclistas e sete motoqueiros em seu quadro de funcionários. "A bicicleta é mais rápida em entregas no centro de BH e pode parar em qualquer lugar", explica.

"Recorro aos motoboys para viagens na região metropolitana." No comparativo com os entregadores de moto, os ciclistas são mais baratos. Em São Paulo, por exemplo, a entrega motorizada sai por volta de R$ 20 por duas horas de serviço. O leva e traz a pedaladas custa a partir de R$ 14 e é cobrado de acordo com a dis tância. Em Belo Horizonte, por sua vez, o preço é a partir de R$ 7.

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Apesar de o Código de Trânsito Brasileiro garantir a circulação das bicicletas nas ruas, nem todo motorista respeita quem está sob duas rodas. Dados sobre mortes de ciclistas no trânsito de São Paulo são alarmantes. De 2004 para 2007, subiu de 51 para 83. Mensageiro há quatro anos e dono da EcoBiker, José Leite Neto nunca sofreu um acidente grave. "Tem que ser guerreiro, mas o máximo que tive foram raladas e arranhões", diz Neto. Infelizmente, nem sempre é assim. Teixeira, da Transpedal, conta que já perdeu um de seus funcionários no trânsito. "Acidentes com ciclistas são muito mais raros do que com motoboys, mas acontecem sim", diz.

A tarefa de encontrar profissionais habilitados para a função é árdua. Assistente administrativo da Bike Courrier, em São Paulo, Marcos Lourenço dos Reis conta que é comum recusar serviços por falta de funcionários. "Temos 15 ciclistas, mas se pudéssemos teríamos 100", diz. Mercado é o que não falta. Mas, além de profissionais capacitados, é bom lembrar que respeito no trânsito, especialmente por parte de quem está motorizado, é fundamental para o sucesso deles.