Em agosto de 1503, quando o navegador Américo Vespúcio aportou na principal ilha do Arquipélago Fernando de Noronha, após o naufrágio da nau capitânea da 2ª Expedição Exploradora comandada por Gonçalo Coelho, ficou tão fascinado com a beleza do lugar que escreveu ao rei de Portugal, D. Manuel, afirmando ter chegado ao paraíso. Cinco séculos depois, comemorados no dia 10 de agosto, o conjunto de ilhas ainda preserva o título dado pelo navegador. Santuário ecológico, Noronha virou patrimônio cultural mundial segundo a Unesco. As festividades dos 500 anos começaram com o lançamento de selo comemorativo pelos Correios, exposições de artistas e fóruns sobre meio ambiente. Mas a festa vai durar todo o ano. Estão programados campeonatos de pesca oceânica e de surf, regatas com saídas do Recife, além de atividades com alunos do ensino público do Estado.

Localizado a 545 quilômetros do Recife (PE), o arquipélago é o
topo de uma cadeia de montanhas que brotam do fundo do mar
a quatro mil metros de profundidade. É composto por 21 ilhotas e rochedos de origem vulcânica, que agrupam 16 belíssimas praias
de águas azuis – às vezes verdes –, cristalinas e com temperaturas médias de 26 graus. Entre elas, a do Sancho é tida como a mais
bela do Brasil e a estratégica Maré Gráfica, de onde se avista a
maioria das ilhas. Há também diversas piscinas naturais. Todas
inseridas em um dos maiores ecossistemas do País.

Além da exuberante paisagem, Fernando de Noronha também apresenta outras características bem peculiares. Apenas 30% do arquipélago é habitado pelo homem e todos os seus 2.300 habitantes têm moradia própria, assistência médica e escola. A taxa de desemprego é zero.
Não há crianças nas ruas pedindo esmola ou fora da escola. Enquanto
o continente vive o tormento da falta de segurança e da violência, Noronha tem um cotidiano tranquilo. “Nossos problemas são a falta
de água e de esgoto. Mas já estamos investindo para suprir essa carência nos primeiros meses de 2004”, explica Edrise Fragoso, administrador da única ilha habitável.

Esses problemas e a conservação ecológica explicam o rigoroso controle para entrar no arquipélago. Os visitantes, ainda no avião, preenchem um formulário com dados pessoais, informações sobre os motivos e período de permanência. Cada turista paga uma taxa diária de preservação ambiental de R$ 23,87. Esse valor aumenta progressivamente se ele
ficar mais de dez dias. O local comporta apenas 400 visitas por dia, e não se estimula a vinda de novos habitantes. Os passeios são acompanhados por monitores em horários preestabelecidos. Um exemplo é a praia da Atalaia, que faz parte do Parque Nacional Marinho. Ela abre às oito
horas e fecha ao meio dia. Apenas 100 pessoas, em grupos de 25,
visitam a praia por dia. E só podem ficar 30 minutos. Mesmo assim
não há quem não queira conhecê-la.

Infra-estrutura – Apesar de excepcionalmente atraente, Fernando de Noronha não dispõe de boa infra-estrutura para acomodar seus visitantes. Das 110 pousadas, a maioria é domiciliar e oferece conforto modesto aos visitantes. As exceções são as Pousada Maravilha, do apresentador Luciano Huck, e a Pousada Zé Maria, do pernambucano do mesmo nome, que são grandes investimentos com bangalôs, suítes e diárias de até R$ 1.400. “Boa parte dos nossos visitantes são estrangeiros. Oferecemos sofisticação e serviços comparáveis a qualquer grande hotel do continente”, afirma Zé Maria.

Mas a história de Fernando de Noronha não é construída apenas de beleza e festa. Sua maior ilha também já foi considerada o inferno para alguns. Um ano após seu descobrimento, o arquipélago foi doado ao fidalgo Fernão de Loronha – daí a origem do nome, alterado ao longo do tempo – e se tornou a primeira capitania hereditária. Jamais ocupado por seu donatário e abandonado por quase dois séculos, virou palco de várias invasões – de ingleses, franceses e holandeses. E, já no século XX, serviu de base militar americana durante a Segunda Guerra Mundial e abrigou um presídio para presos comuns e políticos. Após sucessivas administrações militares, foi reintegrada ao Estado de Pernambuco em 1988, resgatando seu status de paraíso. Vespúcio não exagerou.