Cultura

Artes visuais
Teatro em alta definição
Robert Wilson dirige celebridades e atores independentes em vídeo-retratos musicais

Por Paula Alzugaray

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Ícone da vanguarda americana, Robert Wilson se notabilizou pela reconstrução da linguagem operística. Madame Butterfly, Parsifal, A flauta mágica, nenhum clássico resistiu ao seu tratamento multimídia e minimalista. Em 1976, ele reiniciou definitivamente o gênero da ópera com a criação de Einstein on the beach, em colaboração com o músico Phillip Glass. Mas Bob Wilson é um desses artistas inclassificáveis, que não se encaixam a categorias artísticas preconcebidas. Atribuem- se a ele as atividades de diretor, coreógrafo, performer, designer de luz e videoartista. Na exposição que o trouxe ao Brasil, ele exerce com maestria cada uma dessas funções. Wilson não está em São Paulo para a apresentação de uma peça teatral, mas de uma série de minioperetas, exibidas dentro de televisores de plasma ou projetadas na parede, em dimensões monumentais.

i76850.jpgOs "vídeo-retratos" expostos aqui têm quase sempre o formato clássico dos retratos da pintura pós-renascentista. São verticais e representam o retratado em sua totalidade, em uma pose estática, com o olhar direcionado para o pintor – ou o fotógrafo. De fato, poderíamos estar diante de pinturas hiper-realistas, se os personagens não executassem microcoreografias diante da câmera de alta definição de Wilson, desempenhando gestos mínimos como vestir uma máscara de lobo, mascar chicletes, sacar uma arma ou marcar o compasso da trilha sonora com o pé esquerdo. Os retratos foram realizados durante uma residência artística de Wilson na emissora de televisão de alta definição Voom e poderiam, segundo o diretor, "ser vistos na tevê, em galerias, museus, estações de metrô, hotéis, aeroportos ou mesmo no quadrante de um relógio de pulso". Posam para os retratos pop stars como Winona Ryder, Brad Pitt, Isabella Rosselini e a princesa Caroline de Mônaco. Mas também há atores cult, como Steve Buscemi, que posa como carniceiro, e anônimos, como o mecânico Norman Paul Flemming. Nas trilhas sonoras, colaboram Lou Reed e Tom Waits.

 

Bate-papo
Almir Mavignier

Pintor em branco-e-preto
O carioca Almir Mavignier, 83 anos, fez carreira na Europa e se naturalizou alemão em 1981, mas é parte da história da arte brasileira. Quando deixou os colegas Abraham Palatnik e Ivan Serpa para ir estudar na Alemanha, há 57 anos, a Bienal de São Paulo estava em sua primeira edição e o abstracionismo ganhava espaço por aqui. "Estrangeiro na Alemanha e estranho no Brasil", esse cidadão do mundo expõe em São Paulo até 13/12, na Dan Galeria.

O que você está expondo em São Paulo?
Muitos dos quadros dessa exposição têm mais de 27 anos. A idéia de pintar em preto-e-branco surgiu quando conheci uma galeria em Düsseldorf inteiramente branca. Essa experiência despertou questionamentos. O que é a cor? O que é a forma? Nasceu o conceito de libertação da cor de sua forma, através de efeitos com luz.

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Sente-se mais alemão ou brasileiro?
Em 1969, fui selecionado para representar a Alemanha na Bienal de São Paulo. Meus colegas alemães ficaram pálidos com a notícia. Infelizmente, não recebi nenhum prêmio. A bienal foi criada para valorizar os artistas brasileiros, permitindo a concorrência com os grandes nomes internacionais. Um brasileiro representando a Alemanha, com 30 quadros, era algo muito forte. Foi uma situação muito estranha, mas foi uma exposição belíssima. Eu me sinto um corpo estranho aqui.

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Fernanda Assef

Roteiros
Cuidado: contém videoarte

Container art /Parque Villa Lobos, SP/ até 28/11

A presença de 24 contêineres industriais espalhados no gramado de um parque é, no mínimo, desconcertante. Conhecer seu conteúdo será ainda mais intrigante. Dentro de cada contêiner encontra-se uma seleção da atual produção de vídeo experimental brasileiro. Nesse museu a céu aberto, montado no Parque Villa Lobos até o próximo sábado, o público assiste a vídeos de 50 artistas e encontra desde produções com equipamentos sofisticados e tecnologia de ponta até meios domésticos e portáteis, como celulares, webcams e câmeras de bolso. "O vídeo é um meio superutilizado como suporte e o contêiner, que é um espaço ambíguo e modular, permite ampliar as possibilidades de diálogos. É como brincar de lego", diz o artista Lucas Bambozzi, que assina a curadoria da mostra com o videoartista Cao Guimarães.