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Gripado, Wagner Moura tenta cumprir mais uma etapa da maratona que é lançar um filme no cinema. Coletivas, pré-estreias, entrevistas, sorriso para as fotos. Sempre disposto a responder, o ator que em breve vai estrear em Hollywood como o vilão do filme Elysium, falou sobre seu mais recente trabalho na tela grande: VIPs, filme de Toniko Melo. Interpretando um personagem inspirado teoricamente numa pessoal real – Marcelo Nascimento da Rocha, um estelionatário – e vivido na prática por um personagem que, antes de ser um criminoso, é um sujeito que tem problemas psicológicos com sua identidade, Wagner é mais uma vez o centro das atenções.

Como foi sua contribuição para o roteiro de VIPs uma vez que se decidiu que aquele Marcelo no qual o argumento é inspirado não seria exatamente o personagem do filme?

Wagner Moura – Minha história com esse filme é a seguinte: o Bráulio (Bráulio Mantovani, roteirista), que é meu camarada, chegou dizendo que tinha uma história: "Sabe aquele cara que foi pro Recife se fingindo dono da Gol?" e eu falei: "Sim, sei…" E aí passou um tempo e ele me mandou o roteiro. Só que quando li o roteiro, esqueci que ele era inspirado num cara real. Porque o que eu vi foi outra coisa, a história de um menino se buscando, se procurando. O personagem do filme em nenhum momento aplica golpes nas pessoas, ele se busca. Quando li o roteiro, vi outra coisa que não passava pelo estelionato, mas tinha uma dimensão poética. Não estou tentando colocar um juízo de valor sobre a figura do estelionatário, embora ela tenha e eu nunca deixaria de fazer um personagem por causa disso. Mas a minha opção não é moral, é estética e artística. Vi um caminho para o personagem que parecia mais interessante que o do enganador. Mas é claro que minha visão do roteiro ajudou a iluminar algo que, na verdade, já estava lá.

Mas quando você leu a história, tratava-se de um roteiro já ou apenas do argumento do filme?

Wagner Moura – Era o roteiro já. Tanto que, quando li, já apontei o que havia gostado nele e aí, como acontece no cinema, que é um negócio colaborativo, cada um vai dando seu impulso ali e a coisa vai acontecendo e achando um caminho comum a todos. E todos nós apostamos nesse caminho de levar a história para um terreno mais ficcional.

O quão importante pra um ator é entender sua própria identidade para viver as identidades alheias?

Wagner Moura – É uma pergunta difícil, mas vou tentar responder como pessoa e não como ator. Sou um cara que fica tentando… Especialmente depois de uma certa idade, você vai tentando se entender. Essa tentativa de saber quem você é, de se aproximar de uma certa essência de você mesmo vai ganhando consciência conforme se vai ficando mais velho. Acho que isso é importante pro trabalho de qualquer um, ter consciência de si próprio. Naturalmente, no meu trabalho isso me ajuda porque um ator não inventa nada. Você não inventa uma coisa que não existe dentro de você. Por mais escrota que seja a coisa, você vai tirar uma emoção que está guardada em alguma gaveta sua. Então, se conhecer é importante nesse sentido.

Você já fez terapia?

Wagner Moura – Sim, já fiz.

Ajuda de alguma maneira?

Wagner Moura – Ajuda sim, claro. É um caminho bom de autoconhecimento.

Como é o teu processo na leitura de um personagem pro cinema? Quando você pega no roteiro, tua leitura já é visual?

Wagner Moura – Depende muito. Eu leio várias vezes o roteiro, deixo ele descansar, aí leio um pouquinho mais. Cada roteiro e cada filme têm uma particularidade que pede um caminho diferente pra você abordá-lo. No caso de VIPs, tomei uma abordagem bem stanislavskiana de construção de personagem. Porque é um filme muito psicológico. Tive que voltar a Stanislavski para entender esse garoto e essas diversas personalidades que ele cria. Cada filme puxa um jeito de se olhar pro roteiro. Estou começando a trabalhar em um filme agora produzido pela O2, dirigido pelo Luciano Moura (A Cadeira do Pai), que eu estou tentando entender ainda que maneira será essa. E isso também depende da relação com o diretor, como ele trabalha com os colegas e atores.

Você falou em Stanislavski. Se preocupa em estudar sempre técnicas de ator?

Wagner Moura – Não, me preocupo em estar aberto para o que vem. Não diria que sou um ator que paro para estudar técnica. Mas também minha formação como ator foi muito fazendo, muito prática. E cada trabalho termina te ensinando muita coisa, muito mais do que a própria teoria. Com o tempo de carreira que tenho, terminei conhecendo vários jeitos de se trabalhar e aos poucos você vai descobrindo a melhor maneira de abordar o próximo personagem.

Quando você pretende escrever um roteiro pra cinema?

Wagner Moura – Pois é, estou a um tempo tentando escrever um argumento pra um filme, mas é uma coisa muito pessoal que ainda não se sustenta como argumento.

Mas seria algo que te interessaria interpretar também ou apenas escrever?

Wagner Moura – Quero dirigir e, talvez, interpretar também. Se o personagem tomar um tamanho tão pessoal que só eu possa fazer… Mas por outro lado talvez fique tão pessoal que eu só queira ver de fora. Mas certamente dirigir eu quero.