Por essa eu não esperava. Sempre quis ser atriz, mesmo quando ainda não sabia que isso poderia ser uma profissão, já havia esse desejo.

Aos sete anos, interpretei meu primeiro papel: um pinto. A peça de escola era “O Patinho Feio”. Minha fala: – Piu. Eu usava uma roupa medonha de papel crepom que tinha um bico de cartolina na cabeça e eu que sou cartesiana ficava pensando o tempo todo o porquê de o bico estar na cabeça, e não na boca. Meus pais, imigrantes portugueses, naturalmente não tinham hábito de frequentar teatro e eu simplesmente não sabia do que se tratava. A minha única ligação com a arte era o balé. Comecei a dançar (mal) aos 5 anos, por um motivo nobre: minha mãe achava minhas pernas muito finas, ela diz que minhas canelas eram da mesma espessura que minhas coxas, sofria com isso e não contava pra ninguém, até que ouviu dizer que o balé torneava as pernas. Só há poucos anos me confessou a verdade e eu acreditando que tinha algum talento para Anna Pavlova de Niterói. A primeira vez que fui ao teatro foi para atuar, não para assistir. Gostei daquele negócio. Lembro-me perfeitamente da minha ansiedade para dar a minha fala: – Piu. Como a peça não tinha marcação, eu ficava parada do lado direito do palco assistindo à bonitinha que fazia o grande protagonista: o patinho, no caso a patinha; já naquela época não havia muitos meninos disponíveis. Não, aquilo não me parecia justo, ela não gostava, tinha vergonha e eu doida para me exibir, obrigada a ficar imóvel, toda de amarelo-ovo no canto do palco. Tudo bem, no ano seguinte, fui escalada para representar o desafiador papel de professora de estudos sociais na festa de fim de ano. Esta seria minha grande chance. Ali, eu tomei um susto quando ouvi a primeira deliciosa gargalhada da plateia. E assim foi por todo o período escolar. Fazendo teatro e pensando o que eu queria ser quando crescesse. Eu não sabia que já sabia. Fiz vestibular para fonoaudiologia, terapia ocupacional e pedagogia; para este último passei e coloquei como primeira opção segundo semestre para poder fazer escondida dos pais lusitanos, vestibular para… artes cênicas. Cá estou, há 27 anos, ora pois.

Nunca escrevi nada. Na-da. Apesar de ter sido boa em redação na escola, nunca me achei capaz de manipular bem as palavras . Só que eu fiquei doente. Muuuuito doente. E, quando estava me tratando, eu pensava sem parar. E pensava meio diferente do que havia ouvido sobre quem teve câncer. Observava coisas que eu não conhecia e achava muito curiosa a reação dos seres humanos perante a possibilidade da morte. Decidi ter um blog. Logo eu que só sabia passar e-mail! Só que eu fui tão sincera que meu blog começou a ter muitos, mas muitos acessos. Comecei a gostar. Os comentários começaram a aumentar, e eu gostando. E, sem intenção, comecei a ajudar a milhares de pessoas!

O assunto era câncer e não era chato! Não era assustador! Dava pra rir! Dava porque eu sou assim e ali estão meus sentimentos. Não, eu não me tornei um Verissimo, eu simplesmente relatei o que me dava na telha. Pelo jeito não só na minha telha. O que eu acho mesmo é que legitimei o sentimento de muitos.

Só que, além de praticamente virar uma autora de autoajuda doida da internet, fui convidada a escrever um livro e a ser colunista da ISTOÉ! Sim, muito chique.

A partir de hoje deixarei aqui minhas observações e impressões sobre… o que me der na telha! E acho que hoje digo mais do que – Piu!

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