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1932 – 2011
Mais de 50 filmes, dois Oscars de
melhor atriz e sete maridos
  

Morreu em Los Angeles na quarta-feira 23 a atriz que falava em cores – na cor azul. Morreu de insuficiência cardíaca Elizabeth Taylor, e esse era o estonteante tom de seus olhos, mais azuis ainda porque contrastavam com os cabelos profundamente negros. Quanto ao colorido da fala, fica ele por conta do seguinte fato: não houve cineasta que a tenha dirigido e não repetisse o que todo mundo – espectadores, admiradores, desafetos e profissionais da área – estava exausto de saber: Elizabeth Taylor, ao interpretar, falava com os olhos. É por isso que se dizia, então, que falava em azul. Ela será sempre lembrada, assim, como uma das grandes divas da época de ouro de Hollywood pela sua beleza e talento, mas dessa atriz morta aos 79 anos deve-se recordar, também, o fato de ela ter possuído a coragem de modelar um novo comportamento para a mulher e rasgar-lhe cortinas de preconceitos. Como mulher, a atriz esteve à frente de seu tempo.

Aparentemente contraditória, mas só aparentemente, Liz Taylor era ao mesmo tempo liberal e conservadora: amava até a última gota de sua emoção, mas, quando se entediava desse amor, primeiro deprimia-se, depois mandava-o passear. “Eu sempre acreditei que sou guiada pelas paixões”, disse certa vez, no crepúsculo de um de seus oito casamentos. Eis a liberal Liz a encorajar as mulheres de todo o mundo a “viverem aquilo que sentem”. Na verdade, tão liberal a ponto de se casar com o ator inglês Richard Burton quando o conheceu em 1963 no set de filmagens de “Cleópatra” (ela era a protagonista, ele fazia o imperador Marco Antonio), depois de ele se separar, e, passado algum tempo, novamente com ele se casar. Agora, vamos à Elizabeth Taylor conservadora: “dormi somente com homens com quem me casei.” E alfinetava as colegas: “Quem pode dizer o mesmo?” Liz, que tanto se casara, deixava todos atônitos quando sentenciava jargões conservadores: “o casamento é uma grande instituição”.

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A atriz ficou conhecida por ser durona e vulnerável ao mesmo tempo. Após quatro indicações consecutivas ao Oscar, ganhou sua primeira estatueta em 1960 por “Disque Butterfield 8”. Seis anos mais tarde, foi a vez de ser reconhecida pela sua interpretação visceral em “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, sem dúvida o grande papel de sua carreira, vivendo uma alcoolista em crise matrimonial. Liz foi ainda lembrada pela Academia mais uma vez, em 1993, pela sua cruzada a favor dos portadores de Aids, iniciada após a morte de seu grande amigo, o ator Rock Hudson. “Não sei se o presidente George W.Bush tem feito algo em relação à Aids. Para falar a verdade, não sei se ele sabe soletrar a palavra Aids”, teria dito sobre o seu descaso em relação à epidemia.

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Hudson, aliás, está entre os grandes atores que contracenaram com Liz, nascida em Londres e filha de americanos. Favorita do dramaturgo Tennessee Williams, ela dividiu a tela com Paul Newman em “Gata em Teto de Zinco Quente”; com Montgomery Clift em
“De Repente, no Último Verão”; e com Marlon Brando em “O Pecado de Todos Nós”. James Dean foi seu companheiro no drama “Assim Caminha a Humanidade”. A lista de diretores de sua filmografia de mais de 50 títulos é de dar inveja: George Stevens, John Huston, Joseph Losey, Richard Brooks. No auge da carreira, foi a primeira atriz a receber um cachê de US$ 1 milhão. Isso ocorreu em “Cleópatra” e quase levou o estúdio à bancarrota. Enquanto suas atuações lhe rendiam prêmios e prestígio, a vida pessoal ia de altos e baixos. Como muitos artistas sensíveis e talentosos, Liz Taylor pagou o preço de sua sensibilidade refugiado-se no álcool e nas drogas – as internações em clínicas de desintoxicação foram uma constante. Ela também era dependente de analgésicos, usados desde a juventude, quando passou a sentir dores lancinantes ocasionadas por uma queda de cavalo aos 12 anos – fraturou na época três vértebras.

Afora isso, contava com a companhia dos quatro filhos, dez netos e quatro bisnetos e jurou nunca mais se casar após o desastroso matrimônio com o caminhoneiro Larry Fortensky em 1991, o último dos sete maridos que teve. A luxuosa festa aconteceu em Neverland, residência de Michael Jackson, seu grande amigo, a quem defendeu fervorosamente das acusações de pedofilia. Uma das últimas aparições de Elizabeth foi no funeral do cantor em julho de 2009. À época, ela abriu uma conta no Twitter para falar sobre o rei do pop e de seu estado de saúde. Foi também por meio da rede social que avisou que faria uma cirurgia cardíaca, pedindo que seus fãs rezassem. “Meu corpo está uma bagunça”, disse bem-humorada, anos antes, quando as primeiras complicações deram sinais. Atuou pela última vez em “Os Flintstones”, em 1994. Recentemente foi vista de cadeira de rodas por causa de uma escoliose. Uma de suas declarações resume a atitude diante de uma vida feita de amores, sofrimentos e sonhos azuis: “É estranho como os anos nos ensinam a ser pacientes. Quanto menor o nosso tempo, maior a nossa capacidade de esperar.”

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FRASES DE LIZ

“Só dormi com homens com quem me casei. Quem pode dizer o mesmo?”

“Eu não tinha limites. Podia beber todas e não ficar bêbada. Minha capacidade era fora do comum”

“O sucesso é um ótimo desodorante que leva embora todo o mau cheiro do passado”

“Eu não finjo ser uma dona de casa comum”

“Você descobre quem são seus amigos verdadeiros quando está envolvido em algum escândalo”

“Se alguém é tolo de me oferecer um milhão de dólares para fazer um filme, eu não sou tola de recusar”



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