Os últimos dias não têm sido nada felizes para a saltadora e corredora Maurren Higa Maggi, a maior estrela do atletismo feminino brasileiro. Primeiro, ela viu o namorado, o piloto de F-1 Antônio Pizzonia, ser demitido da equipe Jaguar no meio da temporada. Mas o pior ainda estava por vir. Um exame antidoping realizado no Troféu Brasil de Atletismo, em 14 de junho, apontou a presença na urina da atleta de clostebol, anabólico proibido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Maurren alega que o clostebol entrou em seu organismo por meio do creme cicatrizante Novaderm, passado na virilha após uma depilação a laser. Na sexta-feira 1º, a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) suspendeu Maurren preventivamente por dois anos. O próximo passo é o julgamento, que poderá confirmar a pena, decidir por uma punição menor ou até mesmo liberar a atleta. A punição a tirou dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, na República Dominicana. “Foi um descuido, uma fatalidade. Sou supervaidosa. Se alguém tem culpa
nisso, sou eu. Não passou pela minha cabeça que a pomada ia dar doping”, admitiu, em prantos.

Até saber do resultado do exame, há duas semanas, Maurren vivia um conto de fadas. Além da paixão, que fazia a família suspeitar que um casamento estaria próximo, ela estava no auge da forma. Atual vice-líder do ranking mundial do salto em distância, tem as três melhores marcas de 2003 na modalidade. A melhor delas, 7,06 metros, foi atingida no GP de Milão, na Itália, em junho. A atleta teme uma sentença pesada ou mesmo a confirmação dos dois anos de ausência.

O grande sonho de Maurren é conquistar uma medalha olímpica. As regras dizem que o atleta é responsável, ainda que tenha absorvido a substância involuntariamente. O IAAF não aceitou as primeiras justificativas de Maurren. O tempo de punição é contado a partir de 15 de junho passado, quando saltou no Troféu Brasil. Dessa forma, se ela pegar a pena máxima de dois anos, poderá, pelo regulamento, recorrer da pena em junho de 2004, a tempo de disputar as Olimpíadas de Atenas, entre os dias 13 e 29 de agosto. Se conseguir provar o uso por descuido, a pena poderá ser reduzida para seis meses. Se o julgamento determinar uma pena longa, a nova legislação que deverá ser adotada em janeiro próximo pela Wada, a agência internacional antidoping que atende ao COI, mais flexível para a defesa, poderá melhorar a situação da atleta.

A verdade será difícil de ser confirmada. Mas alguns especialistas de peso acreditam na versão da atleta. “Acho que foi o creme”, afirma o médico brasileiro Eduardo de Rose, membro da Wada e presidente da comissão médica da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). “Só existe clostebol no Brasil em forma de pomada. Além disso, para vencer o Troféu Brasil ou mesmo o Pan, ela não precisaria de anabolizante. Se fosse para usar, ela usaria no GP de Milão, dias antes, por exemplo. Para completar, não há registro de caso de doping por clostebol”, completa ele. O jornal O Globo, citando “uma fonte que teve acesso ao resultado”, noticiou que o resultado do primeiro exame revelaria “50 partes por bilhão (PPB)” da substância, quantidade que seria, segundo a mesma fonte, “dez vezes maior” do que o possível de ser absorvido via pomada. “A marca de 50 ppb é insignificante e poderia ser atingida com pomada, sobretudo quando a pele está machucada, como no caso das depilações. Se ela tivesse tomado um único comprimido dessa substância há quinze dias,
por exemplo, a dosagem seria milhares de vezes maior”, contesta o chefe do Departamento de Toxicologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, Anthony Wong. Segundo o médico, na hipótese de doping, 50 ppb podem significar o caso de uma pessoa que tenha parado de usar o clostebol há mais de seis meses. “Mas, se esse fosse o caso, ela teria caído na rede nos três exames anteriores”, completa Wong. Agora,
está na mão dos juízes.