Roupas de qualidade, exclusivas, com preços baixos. Este sonho de qualquer mulher e – por que não? – de alguns homens pode ser realizado nos brechós. Cada vez mais sofisticadas, essas lojas se multiplicaram e se popularizaram de tal maneira nos últimos anos que hoje é comum encontrar ali habitués de shoppings brigando por uma peça usada. “Alguns de meus clientes vêm até de chofer”, conta Het de Carvalho, proprietária do brechó Só Traças, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Afinal, onde mais é possível encontrar uma bolsa Louis Vuitton original, em ótimo estado, por R$ 200 (a da loja não sai por menos de R$ 2 mil)? Sapatos Givenchy, Versace e Yves Saint Laurent também agradam em cheio as socialites cariocas e atrizes como Isabela Garcia e Betina Viane, que costumam frequentar o Só Traças, inaugurado há 20 anos originalmente como opção para pessoas de menor poder aquisitivo. Agora, Het recebe os atuais clientes com lanchinhos acompanhados de café, chá e capuccino.

Mas nenhum brechó brasileiro alcançou tanta popularidade como o
Minha Vó Tinha, em São Paulo. Situado em um casarão de três andares dos anos 20, no bairro de Pinheiros, ele é especializado em roupas
usadas entre as décadas de 1930 e 1980. São tantas peças que os proprietários estão pensando em alugar a casa ao lado para comportar todos os objetos. “Começamos em 1992, como um antiquário. Mas foi ó com a venda de roupas, dois anos depois, que ficamos mais conhecidos”, conta o dono Franz Ambrosio. A fama é tanta que o Minha Vó Tinha vive emprestando roupa para produção de revistas de moda, além de fazer consultoria de minisséries de época para a Rede Globo e ser visitado
por consultores da badalada grife americana Marc Jacobs. Por serem
mais antigas, todas as peças são muito bem cuidadas. Antes de ir para as araras da loja, elas passam por um processo de restauração e lavagem. As jovens Ananda Sander e Natália Hladyszczuk, 16 anos, ficaram encantadas com o lugar. “Moramos perto e todas as nossas amigas costumam vir aqui. Gostamos principalmente das bijuterias,
muito diferentes. Nunca vamos encontrar alguém com a mesma
peça”, acredita Natália.

Ser diferente é um grande atrativo dos brechós. Como as peças são usadas, e têm alguns anos, é muito difícil encontrar alguém com a mesma roupa. Que o diga a empresária Vivianne Flaksbaum, proprietária do brechó Hell’s Club, na badalada Galeria Ouro Fino, em São Paulo. “As pessoas vêm aqui procurando coisas diferenciadas, não só aquelas que estão na moda. Seleciono roupas de marca e modernas para vender na loja. As mais procuradas são as calças Ralph Lauren, Forum e Diesel, além de blusas e sapatos Miu Miu, Chanel e Prada. Vendo tudo por 10% do preço original”, conta. O Hell’s Club tem espaço também para roupas novas, mas de coleções anteriores, de diversas marcas. “Gosto mesmo é de brechó. Quando era adolescente, comprava minhas roupas mais bacanas em lojas do gênero”, diz. A aprovação do público é grande. As estudantes universitárias Aládia Guimarães e Maria Carolina Tiraboschi, 21 anos, gostaram especialmente de uma calça Ralph Lauren de R$ 30 e de uma blusa Opera Rock por R$ 20. “O preço é o que mais chama a nossa atenção. Essas roupas em geral são muito caras e aqui é tudo barato”, comemora Aládia.

A moda das roupas vintage, aquelas de marcas chiques, estrangeiras e usadas, foi o que impulsionou a carioca Karla Montenegro a abrir seu brechó, Karla’s, no Rio. “Percebi que os produtos antigos vinham ganhando o público. As marcas mais procuradas são Dior e Valentino”, diz. A maioria de suas clientes é de classe média alta e algumas chegam a chamá-la para atender em suas casas. “Eu danço conforme a música. Se precisar, levo o produto até o cliente”, conta. O vintage também é o atrativo do brechó Passado Presente, que existe há 15 anos, em São Paulo. Com peças clássicas de Oscar de la Renta e Kenneth Cole, a faixa etária das compradoras costuma ser mais alta. “Vendo muitos casacos de couro, lenços coloridos e vestidos chineses. As boinas, que estão tão na moda agora, custam só R$ 20, enquanto uma nova sairia por R$ 65”, afirma a proprietária Magali de Camargo. A dona-de-casa Vilma Regina Gualda e sua filha Raquel vieram de São José do Rio Preto só para fazer compras em São Paulo. Aproveitaram para visitar o brechó Passado Presente, que conheceram quando moravam na cidade. “Às vezes a diferença de preço nem é tão grande, mas vale pelo diferencial das peças. Os chapéus daqui, por exemplo, são muito bonitos e difíceis de se encontrar em outro lugar”, afirma Vilma.