Desta vez, após o maior acidente aéreo do País, a recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que seus ministros mantivessem absoluta discrição está sendo cumprida. Paulo Bernardo, o ministro do Planejamento, que durante a crise com os controladores de vôo colocouse como intermediário entre as partes, agora tirou 13 dias de férias. Alfredo Nascimento, o ministro dos Transportes, submeteu-se a uma cirurgia na gengiva e deixou o Ministério por quatro dias. Walfrido dos Mares Guia, da Coordenação Política, que, em nome do Executivo, deveria estar transitando pelo Congresso onde duas CPIs investigam o caos aéreo que atormenta o Brasil, não tem saído de seu gabinete na Esplanada. Nélson Hubner, de Minas e Energia, não tem feito nenhum pronunciamento mesmo sabendo que o fantasma de um apagão ainda nos apavora. Por trás de tanta discrição, no entanto, não está apenas um contraponto ao fora de hora "relaxa e goza" da ministra do Turismo, Marta Suplicy; ou ao ingênuo "não há crise aérea e sim crescimento econômico", de Guido Mantega, da Fazenda. O que existe é uma crise interna de gestão.

 

Para o segundo mandato, Lula e seus principais auxiliares definiram que o presidente se dedicaria prioritariamente aos temas de Estado, como viagens, encontros com governadores e inaugurações. A gestão do governo seria responsabilidade da ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil. Mas, há quatro meses, Dilma investe quase a totalidade de seu tempo para viabilizar o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Ela anda com um laptop debaixo do braço e diante de qualquer interlocutor abre no computador um programa no qual aparecem luzes piscando sobre cada uma das obras. As verdes indicam as que já estão sendo tocadas; as amarelas, as que estão quase saindo do papel; as vermelhas, as que estão com problemas. A ministra festeja diante das luzes verdes e perde o humor diante das vermelhas. O resultado é que ela só recebe ministro para tratar de PAC, largou todo o resto e a coordenação do governo ficou em segundo plano. Alfredo Nascimento, dos Transportes, por exemplo, tinha no projeto do trem-bala entre Rio de São Paulo seu maior trunfo político. Estava prestes a lançálo, conseguiu incluí-lo no PAC. Dilma gostou e tomou o projeto para si. Nascimento acaba de proibir seus auxiliares de se meterem com o assunto. Trem-bala agora é da ministra da Casa Civil. Dilma também não delega. "Com essa postura da ministra, o governo fica catatônico", disse um ministro.

No Congresso, os partidos aliados do Planalto, PMDB, PR, PP, todos reclamam das promessas de nomeações não cumpridas. O setor elétrico, por exemplo, no início do ano foi todo prometido em loteamento político para o PT e PMDB, mas nada aconteceu. Entre os parlamentares, Walfrido dos Mares Guia virou alvo das queixas. Ele próprio se queixou a um amigo que até hoje não montou a base leal do governo no Congresso porque não consegue cumprir as nomeações e liberações de verbas prometidas. Mares Guia não despacha nomeação com Lula, só com Dilma. "Só consigo apagar incêndio", desabafou o ministro. Na quarta-feira 1º, depois de a bancada do PMDB na Câmara ameaçar fatiar a CPMF com os governadores, saiu a primeira nomeação, de Luís Paulo Conde, para Furnas. Nesta semana, promete Mares Guia, o nó deve ser desatado.