chamada.jpg

img.jpg
SEM PÂNICO
Autoridades decidem fazer nova análise do programa
nuclear e o Greenpeace já protesta em Brasília
 

Também no Brasil a tragédia de Fukushima reacendeu o debate sobre a necessidade de uma revisão completa do programa nuclear e da atualização da política para o setor. As discussões sobre a criação de uma agência reguladora e a construção de mais quatro usinas atômicas, além de Angra 3, que já está em andamento, começaram em 2004 e se arrastaram até meados de 2009. O projeto, que estava sob a coordenação da presidente Dilma Rousseff, quando ela era ministra da Casa Civil, acabou engavetado. Na semana passada, diante da crise na central nuclear japonesa, Dilma resgatou o documento e o enviou para o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, pedindo uma nova análise detalhada. O discurso adotado pelo governo e respaldado por muitos especialistas é de que não há motivo para pânico. E que as lições do incidente serão aplicad as sem restrições. “Vamos implementar todos os novos protocolos de segurança que forem determinados pela Agência Internacional de Energia Atômica a partir do caso do Japão”, diz, Mercadante.

A oposição, no entanto, apresentou requerimento para que o tema seja debatido na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara. “O acidente de Fu­ku­shima provoca dúvidas sobre o nível de segurança das usinas”, afirma o deputado Ricardo Trípoli (PSDB-SP). Ele deu como e­xem­plo a cautela adotada por países como França, Alemanha e China. Uma postura que, segundo ele, contrasta com o excesso de confiança das autoridades brasileiras. Já o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, pensa diferente: “Achei a decisão da Alemanha de suspender o funcionamento das usinas um exagero”, disse. Mesmo assim, o físico foi obrigado a suspender as férias para atender à convocação de Mercadante, que reuniu a cúpula do setor numa reunião de emergência na terça-feira 15. “A presidente está extremamente preocupada com os efeitos de toda essa questão da energia atômica. Temos que olhar isso com responsabilidade”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

Uma das medidas que estão sendo estudadas é a ampliação do raio de segurança em torno do complexo nuclear de Angra dos Reis, no Rio. “O atual raio de cinco quilômetros pode ser ampliado.O Japão estabeleceu um limite de 30 quilômetros, mas não acho que seja necessário tanto”, avalia o presidente da CNEN. Em Angra, onde duas usinas atômicas funcionam com plena capacidade e uma terceira está em construção, com início de operação previsto para 2016, os técnicos da Eletronuclear argumentam que não há risco de se repetir o desastre de Fukushima. “Sabemos que não temos terremotos aqui, mas os estudos de segurança levaram em consideração a análise das placas tectônicas”, diz o engenheiro José Manuel Diaz Francisco, coordenador de Comunicação e Segurança da empresa. Segundo a CNEN, Angra 1 e 2 foram projetadas para suportar terremotos de até 6,5 graus na escala Richter e ondas de até sete metros. Além disso, os modelos de reatores de Angra são diferentes, assim como os sistemas de refrigeração, mais seguros. Diaz Francisco acrescenta que a construção do complexo, durante o regime militar brasileiro, considerou até a possibilidade de ataques de mísseis ou queda de aviões. O espaço aéreo na área das usinas, inclusive, é fechado, e existe um plano de evacuação para a cidade de 170 mil habitantes.

Anselmo Carvalho, 56 anos, chefe da sala de controle de Angra 2, engrossa o coro dos que descartam motivos para pânico. Ele mora com a família na vila dos funcionários da usina. “Acha que eu estaria tão tranquilo se acreditasse em algum risco?” Existem 13 mil pontos de alerta nas usinas e o último “evento não usual” registrado aconteceu no início de março – o reator desarmou preventivamente, por conta de uma variação de energia. Os moradores de Angra dos Reis, no entanto, chegaram a se inquietar com as notícias de Fukushima. O marinheiro Flávio Araújo, 34 anos, por exemplo, duvida da eficácia do plano de evacuação, lembrando do incidente de 1989, quando uma das sirenes de emergência disparou, depois que um raio a atingiu. “As pessoas fugiram desesperadas pela estrada e os técnicos da usina não sabiam orientar a população. Só muito depois soubemos que não era uma emergência real”, lembra ele. O presidente da Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear (Afen), Rogério dos Santos, também não gosta do “excesso de confiança” demonstrado pelas autoridades brasileiras. “Temos que parar de minimizar as coisas quando se trata de segurança nuclear”, afirma.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

G_Nuclear_angra.jpg 

Leia todas as reportagens do ESPECIAL TRAGÉDIA NO JAPÃO

Um país a ser reconstruído

Será o fim da energia atômica?

A volta do medo nuclear

Esse homem escapou de Hiroshima


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias