Em plena temporada de lançamentos, as prateleiras das lojas de decoração estão abarrotadas de peças exóticas vindas de países tão distintos como a Índia, a China e o Marrocos. Por sua riqueza cultural, o Oriente causa grande fascínio, e a profusão de estilos e cores chama mesmo a atenção, mas nem sempre o que fica bem em uma mansão de Bombaim serve para um apartamento de 60 metros quadrados. Mesmo assim, fica difícil resistir à tentação de adquirir alguns itens, ainda que eles pareçam não se adequar
a nenhum lugar da casa. Tudo bem, dizem arquitetos experientes.
É possível entregar-se a ela. O segredo é não exagerar e misturar homeopaticamente os objetos orientais aos móveis de seu
estilo preferido. Na dose certa, eles darão um toque alegre e sofisticado à decoração.

O preço não é necessariamente um empecilho. Há produtos para todos os bolsos. Nas lojas de decoração mais alternativas, as vedetes são luminárias, almofadas, baús antigos, tapetes e cortinas em cores fortes, como verde, vinho e laranja. Essas peças, segundo Cristina Rodrigues, coordenadora de vendas da rede Espaço Til, caem muito bem se combinadas com móveis de cores neutras e linhas retas. “Esses e lementos étnicos devem entrar como um complemento. Se enjoar, é só trocar o xale do sofá ou o forro das almofadas”, afirma.

Quem quer investir um pouco mais e aprecia antiguidades também encontra grandes achados nas remessas vindas do Oriente. Na loja Desde Ásia, nos Jardins, os clientes fazem fila para adquirir armários porta-dote chineses que custam R$ 7,9 mil. Produzidas por volta de 1880, as peças trazem gravadas ilustrações de época e vêm nos tons vermelho, verde e madeira natural. Na época, as cores tinham uma função social. A vermelha indicava fertilidade e deveria ser usada pelas esposas, a verde pertencia às concubinas e a natural era a opção para quem não queria deixar clara a sua situação conjugal. Hoje, este móveis se transformam em racks para tevê ou guarda-louças.

Dono da importadora Indoásia, o empresário Roberto Saboya de Albuquerque fatura mais de
R$ 1,5 milhão ao ano com objetos antigos garimpados em países como China, Tailândia e Vietnã. Sua especialidade são preciosidades da época da colonização da Índia. Proprietários de hotéis ou de casas de campo cinematográficas vêm até ele para adquirir peças como a cama tipicamente balinesa, de 2m x 2m, chamada Balé-Balé. Feita de madeira de coqueiro, teto de sapê e com uma coroa de terracota no topo, vale milhares de reais. Uma cliente comprou uma dessas para colocar na beira de seu lago, em Brasília, e outro utiliza a estrutura como espaço de meditação.

Tendência – A mistura do Oriente com o Ocidente pôde ser vista na
Casa Cor 2003, encerrada este mês, em São Paulo. O decorador
Roberto Miggotto, por exemplo, colocou dois imensos jarros de
Bali para ornamentar um moderno living, onde a maior estrela era uma espreguiçadeira high-tech. Outros profissionais de renome como João Armentano e Sig Bergamin optam por peças de bambu e madeira ripada para quebrar a sobriedade de ambientes minimalistas. Decoradores acreditam que ambientes monotemáticos, como um quarto japonês
ou uma sala de estar tipicamente marroquina, parecem datados. A arquiteta Simone Mantovani, de São Paulo, explica que usar referências de outros países soa cosmopolita, mas até certo ponto. “Na hora de comprar algo exótico, é importante não esquecer onde se vive. Além
do tamanho e do uso da peça, é preciso atentar para o perfil da casa
em que será colocado”, comenta.

O fato é que alguns materiais vindos do Oriente começam a virar tendência. É o caso dos móveis de teca, uma madeira indiana de aspecto marrom-claro, leve e resistente à chuva. Com ela se faz enormes bancos de madeira e bambu, que comportam até uma família inteira e são ótimos para a sala de tevê ou o terraço. Ou peças para ser usadas no jardim ou na piscina, como a cadeira Steamer, popularizada mundialmente pelo filme Titanic. Donos de restaurantes da moda optam por peças de inspiração asiática, mas com design ultramoderno, como cadeiras ripadas (R$ 300, em média) ou luminárias revestidas de palha e couro. Na opinião de Judith Rozenhek, dona da loja L’Oleil, tais peças acabam funcionando como curingas. “Pode-se colocá-las em salas de inspiração contemporânea, sem agredir o estilo do ambiente”, diz.

De forma geral, o mobiliário em estilo oriental ajuda a conferir um clima zen à decoração. Por isso, é comum os arquitetos aplicarem esse estilo a ambientes propícios à meditação, como jardins e casas de campo. Depois de decorar dezenas de residências com essa estética, a arquiteta Simone Mantovani aplicou a fórmula à sala de estar e ao pátio de sua casa. De um lado, vê-se o living moderno em tons de preto e branco. De outro, um confortável jardim, com uma espreguiçadeira acolchoada importada, uma rede típica do Nordeste, um tatame e um belíssimo gramado. “Acho que o bacana é usar o melhor do design moderno, do antigo e do regional. Afinal, a globalização também pode ser percebida nos detalhes”, diz. Que tal aproveitar a deixa e criar você mesmo o seu estilo?