Seu Hideo Masuda, 60 anos, é um simpático e tranquilo taxista. Suas únicas aventuras são o pesado trânsito de São Paulo, as pescarias de final de semana em Atibaia e os feriadões no Guarujá, onde seus familiares têm um apartamento na praia da Enseada. Baixinho, gordinho, óculos grossos, este sansei está longe do estereótipo do aventureiro. Mas trafega por aí a bordo de uma agressiva Pálio Weekend Adventure, um carro equipado com faróis de milha, estribos laterais, barras de teto, quebra-mato e suspensão reforçada. Enfim, um veículo que, mesmo não sendo um 4×4, foi projetado para encarar pedra e lama. Seu Hideo faz parte de uma legião de brasileiros que trocou carros convencionais por outros com perfil aventureiro.

Veículos com tração integral, os chamados 4×4, com cara e jeito de aventura, estão no mercado há décadas. A novidade é que de uns anos para cá as fábricas desenvolveram séries especiais e criaram estratégias de marketing para associar seus produtos aos praticantes de esportes de ação e aventura. O primeiro veículo desse segmento foi a Pálio Weekend Adventure. Lançada em 1999, a perua da Fiat, por não dispor de tração integral, está longe de ser um daqueles jipões prontos para encarar todo e qualquer terreno. Porém, pesquisas de mercado mostraram que mesmo os proprietários desses carros raramente os utilizavam em trilhas com elevado grau de dificuldade. Daí veio a idéia de lançar um carro com design radical, mas que também pudesse circular sem maiores sobressaltos no asfalto. A estratégia deu certo. Hoje, a Weekend Adventure responde por 40% das vendas de todos os modelos da station wagon. Em 2002, 11.214 unidades da versão foram comercializadas. Além dos acessórios citados acima, a Weekend Adventure é quatro centímetros mais alta e vem equipada com novo motor 1.8. O preço é que não é um convite à aventura: R$ 39 mil.

A experiência acabou sendo tão bem-sucedida que a Fiat resolveu lançar uma família aventureira. Após a Pálio, veio a pick-up Strada Adventure. Em setembro a dupla receberá uma inusitada companhia. Por mais improvável que pareça, está vindo aí o Doblò Adventure. Além do kit aventura, o pesado e desengonçado carro receberá alterações na suspensão e carroceria. Tudo para dar uma aparência radical ao monstrengo da Fiat, que na Itália já tem uma versão 4×4. Há quem
acuse a fábrica de apenas dar uma roupagem nova ao veículo, que,
sem tração integral, não teria condições de enfrentar trilhas íngremes
e alagadas. “Não enganamos ninguém. Oferecemos carros que podem rodar no asfalto e em terrenos agressivos, mas nem tanto. Ressaltamos
a versatilidade. Mas sem exagero”, diz Lélio Tales Ramos, 55 anos, diretor comercial da marca italiana. Desconfianças à parte, o certo é que a estratégia funcionou. Tanto que fez a concorrência se mexer. De olho nessa fatia do mercado, a Volkswagen pôs no mercado a Parati Crossover. Lançado em dezembro de 2002, o modelo sai de fábrica com motor 2.0 de 112 cv. Vem equipado com aerofólio, rack, rodas de liga leve e suspensão elevada. Nesses pouco mais de seis meses, 1.666 unidades foram comercializadas. O carro está na mesma faixa de
preço da Adventure da Fiat.

Ao contrário dos concorrentes, derivados de carros há anos no mercado, o Ford EcoSport tem aventura no seu DNA. A primeira versão do utilitário esportivo ainda não traz a tração integral, indispensável para quem não vê obstáculos à frente. Mas calma, aventureiros! A fábrica tem pronta a versão 4×4, que chegará ao mercado no segundo semestre. Da campanha publicitária, um grupo de jovens divertindo-se em matas e praias desertas, ao visual arrojado e acessórios, tudo remete à ação. O EcoSport, segundo carro produzido na Ford da Bahia, foi projetado para transpor áreas alagadas com até 45 centímetros de profundidade. Além disso, vem com teto e pára-choque traseiro reforçados, rodas aro 15, gancho-reboque dianteiro, porta-malas com capacidade de 712 litros (com o banco traseiro rebatido) e faróis de milha (opcionais), entre uma série de outros itens. O carrinho promete fazer sucesso. De abril, mês de lançamento, até junho foram comercializadas 7.727 unidades. A onda tem provocado mudanças na estratégia de marketing de outras fábricas. O último comercial da General Motors mostra um casal fazendo caminhada e rapel numa cachoeira até chegar ao interior de um dos carros da marca. É o anúncio dos 4×4 da GM. A linha é composta pela Pick-up S-10, o utilitário esportivo Blazer e o jipe Tracker. Todos projetados para quem gosta de aventura ou uma “adrenada” pescaria, não é mesmo, seu Hideo?


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