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O imperador Akihito expressou nesta quarta-feira (16) sua preocupação pelo caráter imprevisível da crise nuclear vivida pelo Japão, após o terremoto seguido de tsunami que matou milhares de pessoas e deixou pelo menos 500.000 desabrigadas. O imperador dirigiu-se a seus súditos em uma mensagem transmitida pela televisão, após uma série de novos incidentes na central nuclear de Fukushima 1, onde os níveis de radioatividade aumentaram ainda mais.

Akihito, cujas aparições públicas são raríssimas, admitiu que o balanço de mortos da pior catástrofe natural que já atingiu o Japão aumenta dia a dia, e lamentou a situação imprevisível em Fukushima. "Espero sinceramente que possamos impedir que a situação piore, graças aos esforços de todos os que participam das operações de resgate e limpeza", declarou.

Os estragos continuam se acumulando nesta quarta-feira, com mais um incêndio e o aumento dos níveis de radioatividade em torno da usina de Fukushima. Além disso, a região de Tóquio foi alvo de mais um terremoto. "Os níveis de radioatividade na entrada da usina nuclear aumentaram bruscamente por volta das 10h (22h de Brasília) antes de caírem um pouco", informou o porta-voz do governo, Yukio Edano.

O porta-voz indicou que o nível de radioatividade perto da central era de 1.500 microsieverts (1,5 milisieverts) por hora, contra um patamar habitual de 0,035 microsieverts. O governo chegou a retirar do local os técnicos e operários que trabalham para tentar conter o colapso da usina, cujo heroísmo tem sido louvado por toda a imprensa. A maioria dos 800 funcionários de Fukushima já haviam sido evacuados após o terremoto de sexta-feira passada. Edano explicou que o nível de radiação além da zona de exclusão de 20 quilômetros decretada ao redor da central não apresenta riscos à saúde. Cerca de 200 mil pessoas já foram retiradas deste perímetro durante o final de semana.

O primeiro-ministro, Naoto Kan, ordenou na terça-feira à população que vive num raio de 20 a 30 quilômetros de Fukushima se isole hermeticamente dentro de casa. O governador da província de Fukushima, Yuhei Sato, relatou nesta quarta-feira o desespero dos moradores. "Este acidente nuclear obrigou as pessoas a abandonarem seus lares. Quero que todos compreendam isto. Quero que todo o país demonstre compreensão por todos desta província", disse Sato à rede pública de TV NHK. "A preocupação e a ira dos habitantes de Fukushima foram levadas ao limite", acrescentou.

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As principais preocupações neste momento são o estado da piscina de resfriamento do reator 4, onde na terça-feira ocorreu um incêndio, e a situação no cilindro de confinamento do reator 2, danificado por duas explosões. Edano indicou ainda que o cilindro do reator 3 pode ter sofrido avarias. A forte radioatividade impediu que um helicóptero se aproximasse do reator 4 para tentar resfriá-lo com água. Um aquecimento excessivo pode provocar a fusão do núcleo do reator.

Em Tóquio, que desde o terremoto de sexta-feira funciona a ritmo lento, a população tenta manter a calma apesar da forte réplica de magnitude 6 que fez balançar os edifícios da cidade na quarta-feira. Por outro lado, os habitantes da capital estão aliviados com o vento que sopra do Oceano Pacífico, dispersando a radioatividade para o mar. A direção dos ventos é observada de perto também pelos países vizinhos, como China e Rússia, e pelos Estados Unidos, do outro lado do oceano.

O comissário europeu de Emergia, Günther Oettinger, falou na terça-feira em um "apocalipse" ao descrever a situação de Fukushima, com um alarmismo pouco comum no Japão. Acima de tudo, as autoridades precisam lidar neste momento com a crise humanitária que atinge as mais de 500 mil pessoas que ocupam os abrigos de emergência. Algumas precisaram abandonar suas casas às pressas, por morarem muito perto de Fukushima, ou por ter perdido tudo no terremoto e no tsunami.

Houve, no entanto, um reflexo positivo dos acidentes em Fukushima, que levaram vários países a ordenar um reexame atencioso de seu setor de energia nuclear. A Alemanha, por exemplo, anunciou na terça-feira o fechamento imediato por três meses de sete de seus reatores nucleares, que entraram em atividade antes de 1981.


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