Ficar longe da educação física na escola, ter de ir para o hospital no meio da noite e se afastar de cães e gatos. Para muita gente isso é ter asma, grave doença respiratória que atormenta crianças e adultos. Mas a verdade é que não precisa ser assim. A medicina está conseguindo desenvolver tratamentos cada vez mais específicos, melhorando a qualidade de vida dos portadores da enfermidade. E avança no entendimento dos mecanismos da asma. Um estudo inglês, por exemplo, comprovou recentemente que mesmo índices de poluição considerados aceitáveis desencadeiam ataques em crianças. Os pesquisadores acompanharam durante um ano 114 pacientes entre oito e 11 anos. O resultado: a garotada exposta ao dióxido de nitrogênio, um dos elementos mais presentes no ar das grandes cidades, teve um número maior de crises graves do que os pequenos poupados desse contato.

Já que a poluição não tem diminuído, pode-se concluir, à luz desse trabalho, que o combate à asma deve ser reforçado. Principalmente na estação fria, que registra o maior número de atendimentos a pessoas com falta de ar e tosse seca. O fato não está atrelado à queda na temperatura em si. O problema é que nessa época a dispersão dos poluentes é mais complicada. Isso funciona como um grande detonador da asma. Afinal, a doença é uma reação alérgica à presença de microorganismos no sistema respiratório. Entre eles, o principal inimigo é o ácaro. Mas não se pode esquecer que os vírus que originam infecções respiratórias podem deflagrar a doença. E há muita gente sofrendo desses ataques. Embora não haja estatísticas oficiais, os especialistas estimam que a enfermidade afete 18% dos brasileiros. Especificamente entre as crianças, o índice de atingidos no País é de 15%, de acordo com estudo internacional feito em 91 países. É bom esclarecer que desenvolve asma quem tem predisposição genética para a doença.

Os asmáticos têm hipersensibilidade aos alérgenos, como pó, pólen e poluição, que causam inflamação dos brônquios. O processo inflamatório forma secreções, dificultando a passagem do ar. “O broncoespasmo, aquele aperto no peito, é apenas a fase inicial. Muita gente não sabe que o grande problema é a inflamação. É ela que pode levar à morte”, afirma o pernambucano Walfrido Antunes, presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia. Quando a crise custa a passar, é possível que a inflamação tenha avançado. É por isso que começar a tratar logo cedo é importante. Desse modo, o processo é contido antes de se tornar grave.

Diagnosticar a doença não é complicado. Suas manifestações são: falta de ar, chiado, aperto no peito, cansaço e tosse seca. Existem testes de alergia, como os aplicados na pele, que podem confirmar a suspeita. “Também podem ser feitos exames de sangue que buscam o anticorpo para um determinado alérgeno”, explica Fábio Castro, professor de alergia da Universidade de São Paulo. Para complicar, há muita confusão em torno do nome da doença. “A asma guarda ainda hoje um estigma de doença grave. Isso vem de um tempo em que era difícil controlá-la. Para amenizar as coisas, o termo bronquite surgiu. O problema é o mesmo e o correto é chamá-lo de asma brônquica”, garante a médica carioca Fátima Emerson, uma das criadoras da Sociedade Brasileira de Asmáticos (www.asmaticos.org.br), entidade que desenvolve programas de educação para asmáticos.

Injeção – Entre os avanços, um deles já pode ser celebrado. O medicamento omalizumab (nome comercial Xolair) foi aprovado em junho pelo FDA, agência americana que regulamenta medicamentos. A droga é utilizada na forma de injeções mensais e deve ser aplicada durante seis meses. Ela pertence a uma classe de última geração, os anti-IgE, que bloqueia a reação alérgica. “É um bom remédio, principalmente para os pacientes mais graves, que vivem em tratamento”, avalia João Tebyriça, professor de alergia e imunologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. A ação do medicamento é precisa e rápida. Não se sabe ao certo quando ele chegará ao Brasil, mas a expectativa é que seja comercializado no País no início de 2004.

Para alívio de muitos asmáticos, entretanto, pode-se dizer que hoje o controle é eficaz. Há no mercado diversos dispositivos para ajudar a prevenir e interromper as crises, desde que usados do jeito certo. O nebulizador (ou inalador), por exemplo, é capaz de fragmentar medicamentos líquidos, formando uma névoa fina que pode ser inspirada e absorvida pelos pulmões. Apesar disso, vale um alerta. Ele não resolve tudo. A história de Kailane Gomes, um bebê que já sofre de crises de asma, comprova isso. No mês passado, sua mãe, Jucilene Leite, 23 anos, teve de agir rapidamente. “Kailane estava com falta de ar, dei duas inalações, mas ela não melhorou. Então, levei minha filha para o hospital”, recorda-se. Foi a medida correta. Kailane estava com uma forte infecção no pulmão e ficou internada uma semana.

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Acessórios – As chamadas bombinhas são também uma boa forma de aspirar o remédio. Nesse caso, o fundamental é não esquecer do espaçador, um encaixe entre a bombinha e a boca. “Quem não usa o espaçador aproveita apenas 10% de cada bombada”, garante Luzimar Teixeira, coordenadora do Instituto Punin de Informação e Referência em Asma (Inspira), em São Paulo. Outro acessório que faz a diferença é o medidor de fluxo respiratório. Com um sopro no aparelho, é possível saber se o fluxo da respiração está dentro do normal ou abaixo do necessário. Caso esteja abaixo, o estado do asmático é de alerta. “O medidor antecipa uma crise em até cinco horas e a pessoa pode evitar um ataque mais forte usando medicações preventivas”, afirma Teixeira.

Há medidas simples que podem ser tomadas para causar menos transtornos no dia-a-dia. Cuidar do ambiente, por exemplo, é tão importante quanto fazer uso correto das medicações. A casa precisa de limpeza extra para que haja a menor quantidade de ácaros possível nos recintos, especialmente o quarto. O microorganismo se alimenta de poeira e pele descamada (de animais de estimação e a humana). Tudo que acumula poeira deve ser evitado. Prateleiras de livro, por exemplo, devem ser fechadas com vidro. Também se deve dar atenção a bichos de pelúcia e excesso de brinquedos no quarto. Caso os pais não consigam se livrar de todos, convém separar alguns, limpá-los bem, expô-los ao sol e preservá-los em caixas dentro de um armário. Quando o filho quiser brincar, basta tirar o bichinho da embalagem e guardá-lo depois. Quem tem a doença costuma ser bastante exigente com a faxina. O ginecologista Paulo Olmos, que tem a doença desde pequeno, sabe que, se bobear, terá um ataque. “Na minha casa não tem cortina e carpete. Troco a fronha do travesseiro todos os dias e a roupa é guardada em sacos plásticos”, conta.

O asmático, junto com seus familiares, precisa aprender o que lhe
faz mal. Incenso, spray e principalmente cigarro são proibidos nos ambientes em que ele circula. Mas existem muitos mitos com relação à doença que apenas atrapalham o cotidiano (conheça alguns no quadro acima). O esporte, por exemplo, ao contrário do que muitos pensam, ajuda a enfrentar melhor a doença. Exercitar-se é fundamental. Os especialistas garantem que os asmáticos precisam apenas aprender a respirar da maneira correta. Por isso, a natação é a principal indicação dos médicos, já que ela permite executar exercícios respiratórios. O que se veta são atividades que podem estimular o broncoespasmo,
caso de corrida e ciclismo.

Estar bem informado, portanto, permite ao asmático ter mais qualidade
de vida. E até mais tranquilidade num momento crítico. A estudante paulistana Alice Bressane Lopes, 16 anos, já passou por situações
de aperto. Mas, como ela entendia bem o que estava enfrentando, conseguia encarar o problema de maneira mais calma. Hoje, Alice
está bem, faz tratamento preventivo e não tem mais ataques.


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