14/03/2011 - 12:23
Duas explosões no reator número 3 da central nuclear de Fukushima alimentaram nesta segunda-feira o temor de um desastre atômico no Japão, um país já abalado por um terremoto e um tsunami que podem ter deixado mais de 10.000 mortos. Além disso, a Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da central de Fukushima (250 km a nordeste de Tóquio), admitiu a possibilidade de que o combustível do reator 2 tenha entrado em fusão em consequência de uma avaria no sistema de resfriamento. Mas o governo minimizou a possibilidade de uma grande explosão neste reator.
A Tepco indicou que um colapso não pode ser descartado, depois que os níveis de água (usada para o resfriamento) caíram bruscamente no reator 2. Um porta-voz do governo, afirmou que uma explosão no segundo reator é improvável, e que o trabalho de resfriamento (que consiste em bombear água do mar para o local) pode estabilizar a situação, e que o nível de radiação da central nuclear, que fica a 250 quilômetros de Tóquio, é toerável para humanos. A companhia explicou que 3,7 metros das barras de combustível do reator (que têm 4 metros) ainda estavam expostas ao ar às 20h07 desse domingo (8h07 de segunda-feira, horário de Brasília), antes da retomada do bombeamento de água do mar.
Mortos e feridos
As equipes de resgate já encontraram quase 2.000 corpos na costa da província de Miyagi (nordeste), enquanto milhões de japoneses tentavam sobreviver sem água, energia elétrica, combustível ou comida suficiente. Centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a dormir em centros de emergência em consequência da onda gigante que destruiu suas residências. Os desastres naturais também representaram um duro golpe para a terceira economia mundial, que ficou sem energia elétrica suficiente para o funcionamento de suas fábricas. O pânico atingiu a Bolsa de Tóquio, que fechou nesta segunda-feira em queda expressiva de 6,18%, após um movimento de vendas precipitadas de ações.
Socorristas de todo o mundo chegavam ao arquipélago para colaborar com os mais de 100.000 soldados mobilizados para prestar assistência, em um país que segue abalado pelos tremores secundários e em permanente sobressalto pelos alarmes falsos de novos tsunamis. Em Ishinomaki, uma cidade de 165.000 habitantes duramente atingida, "há uma corrida contra o tempo para salvar possíveis sobreviventes de uma montanha colossal de escombros", afirmou Patrick Fuller, porta-voz da Cruz Vermelha para a região Ásia-Pacífico.
O temor de um desastre nuclear se uniu à angústia provocada pela devastação. O terremoto, o tsunami e as explosões nas centrais nucleares levaram o país a enfrentar a "crise mais grave desde o fim da Segunda Guerra Mundial", disse o primeiro-ministro, Naoto Kan. As explosões desta segunda-feira no reator 3 de Fukushima 1 deixaram 11 feridos, mas o edifício e o reator não foram danificados, segundo a Agência de Segurança Nuclear do Japão. Uma explosão foi registrada no sábado no reator número 1, matando um técnico e deixando 11 feridos. A fusão é produzida pelo superaquecimento das barras de combustível, que começam a derreter como velas. Kan ordenou no fim de semana uma evacuação em um raio de 20 km ao redor de Fukushima.
As autoridades decretaram estado de emergência em uma segunda central nuclear, a de Onagawa (nordeste), depois que foram registrados níveis de radioatividade que superavam os autorizados. Após um períoso os níveis voltaram ao normal, informou em Viena a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Outra central nuclear, a de Tokai, sofreu uma avaria no sistema de refrigeração, mas as bombas de água auxiliares funcionavam e seguiam resfriando o reator, segundo as autoridades.
Tragédia
O terremoto, de 8,9 graus e a posterior onda gigante de 10 metros de altura arrasaram na sexta-feira a costa nordeste do arquipélago nipônico. A ONU anunciou em Genebra que 590.000 pessoas foram retiradas da zona do desastre, incluindo 210.000 que vivem nas proximidades das usinas nucleares de Fukushima.
Um novo e forte tremor, de 5,8 graus, segundo a agência meteorológica japonesa, foi sentido na manhã desta segunda-feira em Tóquio. O número de vítimas continua aumentando, informaram as autoridades. Mais de 10.000 pessoas podem ter morrido no município de Miyagi (nordeste do Japão), o mais próximo do epicentro do terremoto, informou o chefe de polícia local, Naoto Takeuchi.
O governo já advertiu que a catástrofe terá um impacto considerável sobre a economia do país. O custo para as seguradoras pode chegar a 34,6 bilhões de dólares, segundo uma estimativa inicial da AIR Worldwide, empresa especializada na avaliação de riscos. De acordo com a agência de notícias japonesa Kyodo, mais de 3.400 edifícios residenciais desabaram na tragédia. Pelo menos 5,6 milhões de casas permanecem sem energia elétrica, e a Tepco programou cortes de luz a partir desta segunda-feira até o fim de abril, para evitar a sobrecarga das redes e os apagões. Além disso, um milhão de casas permanecem privadas de água potável.
Para manter a economia, o Banco do Japão (central) injetou nesta segunda-feira no mercado a maior quantia de liquidez de sua história, 15 trilhões de ienes (181 bilhões de dólares), depois de ter transferido no domingo 55 bilhões de ienes a 13 bancos implantados na região afetada.