O verão escaldante na Itália, com praças e praias lotadas, vai perder um ilustre visitante. O chanceler (chefe de governo) alemão, Gerhard Schröder, cancelou suas férias e trocou as taças de vinho branco no resort adriático Pesaro pelo chope alemão em Hanover. O motivo é a faiscante troca de farpas entre a Alemanha e a Itália. Depois de um terrível mal-estar com as declarações estapafúrdias do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que comparou o deputado alemão Martin Schulz a um chefe nazista de campo de concentração, agora foi a vez de Stefano Stefani, vice-ministro da Indústria e Turismo. Stefani, da separatista e racista Liga Norte, chamou os turistas alemães de “loiros ultranacionalistas, barulhentos e ultrajantes, que invadem as praias do país, comem macarrão e ainda falam mal dos italianos, relacionando-os com a máfia”.

Ninguém nega que a culinária italiana e, obviamente, as massas
sejam um dos grandes prazeres da vida, e a Itália, o país de maior
acervo arqueológico do mundo, um destino encantador. Mas os alemães não gostaram nada de serem chamados de “arrogantes” e “invasores
de praias”, como enfatizou Stefani. As declarações do vice-ministro, publicadas no jornal da Liga Norte, La Padania, foram além do mau
gosto e da falta de bom senso. “Nós conhecemos bem os alemães, aquelas louras estereotipadas com um orgulho ultra-nacionalista e que sempre foram doutrinadas para serem as primeiras da classe a qualquer custo”, completou Stefani. O vice-ministro, que teve uma esposa alemã, parece ter ficado com trauma das germânicas. Ele também soltou farpas contra o deputado alemão Martin Schulz, que havia criticado anteriormente a atitude do premiê Berlusconi. Stefani disse que Schulz “provavelmente teria crescido fazendo parte das disputas de arrotos depois de beber muita cerveja e de se empanturrar com enormes quantidades de batatas fritas”.

Mas as rajadas de ódio foram além das desavenças das culinárias e começaram a desencadear boicotes de viagens às várias cidades turísticas italianas, como Veneza, Florença e Roma. Schröder catalisou o sentimento de repúdio às ofensas aos alemães e cancelou a viagem. É muito improvável que os alemães deixem de desfrutar la dolce vita, mas, se as intempéries entre os dois países continuarem, os prejuízos não serão poucos. Segundo dados oficiais do governo italiano, no ano passado 9,2 milhões de alemães estiveram na Itália, cerca de 25% de todos os estrangeiros que visitaram o país. Esses visitantes desembolsaram cerca de 9,5 milhões de euros.

Se Berlusconi, como presidente rotativo da União Européia, foi obrigado
a se desculpar junto ao Parlamento europeu, o mesmo não aconteceu com o vice-ministro. “Se eu fosse o chefe de governo, esse homem
não estaria mais no poder ”, afirmou sobre Stefani o ministro do Interior da Alemanha, Otto Schily, que também adora passar férias na Itália. Stefani não pediu desculpas e neste novo incidente Berlusconi apenas pronunciou um irônico “lamento por ele (Schröder)”. Quem mais se irritou com as farpas foi Palmiro Ucchieli, chefe da província de Pesaro. “A estupidez dos que estão liderando esse governo é tão grande que está causando sérios prejuízos econômicos ao danificar nossa imagem”, afirmou. Enquanto ficar no chope e na pizza, as chances de deterioração das relações ítalo-germânicas não são muitas, até porque, como presidente da UE, Berlusconi terá que baixar a bola. Mas, depois de tantas desavenças iniciadas com as diferentes posições sobre a guerra contra o Iraque (Alemanha contra e Itália a favor), o chope poderá esfriar e a pizza, azedar.


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