Depois de conquistar o apoio da sociedade, empresas, escolas e ONGs em todo o País, o Programa Fome Zero ganha destaque no Exterior e começa a firmar parcerias de cooperação com organizações internacionais. Em junho, a convite de prefeitos italianos, o ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano da Silva, foi à Itália para a inauguração da Associação Italiana dos Amigos do Fome Zero. A instituição, formada por ONGs e 40 prefeituras, quer
ajudar as ações do Programa no Brasil. “Queremos sensibilizar a
população e os empresários italianos, com o objetivo de arrecadar recursos para realização de projetos como criação de cisternas, construção de padarias em comunidades carentes e incentivar a
prática da agricultura familiar no semi-árido brasileiro”, explica Luca Mucci, presidente da Associazone Modena Terzo Mondo, uma das ONGs parceiras, que há 15 anos desenvolve projetos sociais no Brasil. As
outras instituições que estão colaborando com o Fome Zero são: a
Slow Food, uma associação que defende a valorização e tradição da cultura alimentar e a Casa Delle Solidarietà Rete Radiè Resch, que também atua no Brasil há mais de 40 anos.

Projetos de cooperação também foram apresentados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que liberou US$ 1 milhão e também vai disponibilizar ajuda técnica para a aplicação do programa. “Alguns países como a Índia têm programas de combate à fome, mas é notável a importância do Fome Zero”, diz Andrew MacMillan, do Departamento de Cooperação Técnica da FAO, em Roma. A organização aprovou relatório recomendando que os demais países combatam a fome de forma direita e urgente como o Brasil está fazendo.

O apelo começa a surtir efeito. A Argentina foi a primeira a atender o pedido. Na segunda-feira 7, o presidente argentino Néstor Kirchner, anunciou o lançamento do programa A Fome mais Urgente, uma versão adaptada do modelo brasileiro, que deve atender a mais 4,5 milhões de pessoas. A lista de intenções inclui o Peru e o Equador. O México também quer conhecer as estratégias para estruturar um programa de segurança alimentar similar ao brasileiro. “Queremos não só exportar, mas também prestar serviço aos países interessados que poderão aplicá-lo adequando-o às suas realidades”, diz Frei Betto, assessor especial da Presidência, que em novembro irá à Europa visitar alguns países interessados em se tornar parceiros do programa.

Apesar da credibilidade externa e do envolvimento nacional, o programa é considerado assistencialista por críticos brasileiros. Apesar disso, o Fome Zero foi citado no Relatório de Desenvolvimento Humano 2003, divulgado essa semana pela ONU, como uma iniciativa política positiva no combate à fome. “O Brasil está despertando a atenção dos países desenvolvidos e em desenvolvimento porque está tratando a fome não apenas como uma questão de pobreza, mas como um direito universal”, afirma o secretário executivo do Ministério de Segurança Alimentar, Flávio Botelho. É com essa expectativa que o presidente Lula vai propor à Organização das Nações Unidas (ONU), a criação um fundo mundial de combate à fome. A proposta será apresentada, em Roma, durante as comemorações do Dia Mundial da Alimentação, em outubro.