Os políticos sempre se esforçaram em criar expressões para justificar as conveniências da vida partidária. A jovem Clarissa Matheus, 21 anos, acaba de criar a sua: “Política é volátil.” Filha da governadora Rosinha Matheus e do secretário estadual de Segurança, Anthony Garotinho, ambos do PSB, a jovem estudante de Comunicação Social dá os retoques finais na reaproximação entre os ex-governadores Anthony Garotinho, seu pai, e Leonel Brizola, algo impensável durante os três anos em que os dois vinham se engalfinhando numa troca de xingamentos que parecia não ter fim. Expulso do PDT em 2000 por Brizola, Garotinho tem sido forçado pela cúpula do PSB a buscar outro abrigo para continuar fustigando o governo Lula, com críticas à ortodoxia da política econômica e às reformas na Previdência.

O primeiro passo para o reatamento do namoro foi dado por Clarissa ao convidar a juventude e dirigentes do PDT para o ato “Acorda Lula!”, gota d’água do rompimento entre Garotinho e a direção do PSB. O PDT mandou estudantes e políticos para o ato e Clarissa fez chegar ao cacique do partido uma mensagem sedutora: por nutrir um carinho especial desde criancinha por Brizola, ela gostaria de visitá-lo. Não precisou uma segunda cantada. O encontro ocorreu na última sexta-feira de maio, no apartamento do ex-governador, em Copacabana. Apesar da diferença de idade – Brizola tem 81 anos –, conversaram durante duas horas sobre história política e a conjuntura atual. “Eu tinha Brizola como um avô. Levei fotos que tirei dando beijos nele quando eu era criança e me juntava às multidões que o aguardavam no aeroporto”, contou Clarissa.

A desenvoltura da garota como cupido acelerou a reaproximação e a filiação de Garotinho já é dada como certa, caso o PSB efetive a expulsão. Garotinho ganharia um partido ainda forte no Rio e Brizola compensaria a provável desfiliação do ministro das Comunicações, Miro Teixeira. Tem sido animada a agenda de Brizola no esforço para abrigar opositores do ex-amigo Lula. Ele convidou os rebeldes do PT e, na semana passada, mudou o comando do PDT em São Paulo anunciando a candidatura do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, Paulinho, à sucessão de Marta Suplicy.

“Nossa primeira opção é ficar no PSB. Se não for possível, o melhor caminho é o PDT, que foi nossa casa por muito tempo”, diz Clarissa.
Para ela, as ofensas trocadas em três anos foram pessoais e não
seriam obstáculo político. “Política é volátil. Tudo pode ser feito
dentro do interesse público, com princípios fiéis ao povo brasileiro”, justifica, com expressões típicas do “avô Brizola”. O encontro entre
seus pais e Brizola, segundo ela, não tem data marcada. “Depende
do processo social”, diz Clarissa.