A caminho da nova casa para onde irá se mudar com a família, a pequena Chihiro se irrita. Típica garota japonesa, filha única, moderna, rebelde e resmungona, sozinha no banco traseiro do carro dirigido por seu pai, ela se sente a última das últimas. Logo, Chihiro e a família se defrontarão com um enorme castelo cuja entrada é um túnel. Para a menina é o vislumbre de uma nova fase de vida. E assim
se inicia A viagem de Chihiro (Spirited away, Estados Unidos/Japão, 2001), cartaz nacional na sexta-feira 18, produção assinada pelo diretor japonês Hayao Miyazaki e vencedora do Oscar de melhor filme
animado, entre outros prêmios.

Diferentemente da maioria dos novos desenhos animados japoneses, A viagem de Chihiro não apela para a violência excessiva ou para o humor gratuito nem privilegia cenas de ação hipnóticas, apoiadas numa profusão de efeitos especiais. É claro que eles existem, mas a diferença é que a animação e a colorização computadorizadas foram feitas a partir de desenhos originais, ou seja, os personagens e os cenários seguiram a técnica artesanal da pintura à mão para só depois serem digitalizados e maravilharem fãs como John Lasseter, da Pixar americana, e o desenhista francês Moebius. Com a saúde muito abalada, Miyazaki havia anunciado sua despedida do cinema logo após Princesa Mononoke, de 1997, que no Japão angariou mais público do que o bilionário Titanic. Felizmente, voltou atrás e realizou Chihiro com seus deuses e bruxos reunidos em sonhos incompreensíveis à maioria dos ocidentais. Para ter uma idéia da importância do cineasta em seu país, o cultuado diretor Akira Kurosawa (1910-1998) certa vez declarou que comparar sua obra com a de Hayao Miyazaki seria minimizar esta última. Não é pouco.