O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, tem um encontro marcado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 7 de maio para discutir possíveis mudanças no Tratado de Itaipu, uma das principais bandeiras na campanha que culminou em sua eleição à frente de uma coligação de esquerda.

Foi também o fim de 61 anos de hegemonia do Partido Colorado. Na semana passada, no entanto, não se sabia se Lugo terá condições de, finalmente, começar a tentar cumprir sua promessa eleitoral. Enfraquecido no Congresso, onde não tem maioria, e em confronto direto com seu vice, o liberal Federico Franco, Lugo encontra-se atolado por uma crise de credibilidade, depois que três mulheres anunciaram serem mães de filhos seus.

Em dois dos casos, as crianças teriam sido concebidas enquanto ele ainda era bispo da Diocese de San Pedro, na região central do país.

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FENÔMENO Damiana diz que Lugo (no alto) é pai de seu filho Juan Pablo e elogia desempenho do ex-bispo

Ex-coordenadora de uma pastoral, Damiana Morán Amarilla, 39 anos, foi a terceira e mais recente mulher a se apresentar como mãe de um filho do presidente. Batizado Juan Pablo em homenagem ao papa João Paulo II, o garoto tem 16 meses. Ela contou ter conhecido Lugo em 2006. "Me apaixonei, porque ele, como homem, é um fenônemo", declarou. Disse também que sabe de outras seis mulheres que apontam Lugo como pai de seus filhos.

No dia anterior, a vendedora ambulante Benigna Leguizamón, 27 anos, tinha entrado com uma ação na Justiça para que Lugo reconhecesse a paternidade de seu filho Lucas Fernando, de 6 anos.

Na quinta-feira 23, foi a vez de a Justiça determinar que o sobrenome do presidente fosse incorporado ao nome de outro garoto, Guillerme Fernando, de quase 2 anos. Sua mãe, Viviana Carrillo, foi o primeiro – e até agora único – caso reconhecido por Lugo. A multiplicação de filhos do antigo bispo virou até sucesso musical. "Lugaucho tem coração, mas não usa condón (preservativo)", diz refrão de música do grupo Los Angeles.

A oposição, por sua vez, não está levando na brincadeira as revelações em torno da vida privada do presidente. Já entrou com uma ação contra Lugo, com base na lei que considera estupro o sexo com meninas de até 16 anos, pois Viviana teria essa idade quando começou a relação com ele. Por causa dos escândalos, na semana passada o presidente teve de cancelar uma viagem oficial aos Estados Unidos. Pelas pesquisas de opinião pública, a popularidade de Lugo caiu de 64% para 48% em apenas 15 dias.

Para o cientista político Aldo Fornazieri, diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, os supostos filhos não poderiam motivar um pedido de impeachment.

"É uma questão de natureza pessoal, não envolve crime contra a administração pública", afirma Fornazieri. "Pode ocorrer, porém, uma crise de governabilidade se a falta de credibilidade se agravar", alerta. Este é o temor do presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krische. "Embora a tensão não tenha acabado, Lugo estava conseguindo administrar o conflito entre os sem-terra do Paraguai e os brasiguaios", afirma ele, referindo- se aos cerca de 300 mil brasileiros que vivem naquele país.