São Paulo, domingo 6. Os destinos de dois Alexandres vão se cruzar. Um Alexandre não tem absolutamente nada a perder na vida: é assaltante de banco e está preso na penitenciária de Guarulhos condenado a 25 anos de reclusão. Ele se chama Alexandre dos Santos. O outro Alexandre é trabalhador, e estava a trabalho quando foi contratado para pilotar um helicóptero num vôo panorâmico sobre São Paulo. Chama-se Alexandre Frederico Almeida Colaço. Esse Alexandre só soube em pleno ar que os dois passageiros que se diziam turistas eram bandidos, e sob a mira de armas foi obrigado a pousar na laje da penitenciária de Guarulhos. Teve a coragem de deixar o “rádio aberto” na esperança de que outros pilotos sintonizados na mesma frequência entendessem o que se conversava dentro de sua aeronave. A missão dos dois bandidos era a de resgatar o comparsa preso e, ao se aproximar da laje, o helicóptero foi alvejado 72 vezes pelos guardas da muralha. O Alexandre trabalhador levou três tiros (abdômen, tórax e cabeça) e até a sexta-feira 11 estava internado em estado grave na UTI do Hospital das Clínicas – se sobreviver, corre o risco de ficar paraplégico. Também foram feridos os dois sequestradores e o Alexandre assaltante. A primeira versão da olícia foi um atropelo à razão: os próprios sequestradores teriam tentado matar o piloto. Vale perguntar: e quem iria pilotar a aeronave? A segunda versão deu conta de que o tiro que se alojou no cérebro do piloto foi dado pelos guardas. ISTOÉ procurou o gabinete do governador Geraldo Alckmin para saber a posição oficial do governo em tentativas de fuga nas quais haja refém. “Se alguém tentar resgatar presos em presídios, a ordem é reagir”, informou a sua assessoria de imprensa. Para o vice-presidente da Associação de Pilotos de Helicópteros de São Paulo, Hoel Tadeu de Carvalho, tal ordem é inaceitável: “O Estado não está considerando os pilotos de helicóptero como cidadãos. Atiraram para matar e essa é a reação que o Estado disponibiliza para os seus contribuintes.”

Fugas de helicóptero

• 1985 – o traficante José Carlos dos Reis
Encina (Escadinha) fugiu do presídio da Ilha
Grande no Rio de Janeiro
• 1987 – o traficante Paulo Roberto de Moura Lima morreu durante o seu resgate da penitenciária Frei Caneca no Rio de Janeiro
• 2002 – os assaltantes Aílton Alves
Feitosa e Dionisio Aquino Severo fugiram
da penitenciária de Guarulhos