Seis dias depois da morte do jogador de futebol camaronês Marc-Vivien Foe, 28 anos, o esporte teve outra perda. O volante Foe caiu no meio-campo durante um jogo decisivo da Copa das Confederações, na França, e foi declarado morto uma hora depois. Na semana passada, na quarta-feira 2, um jovem de apenas 21 anos, o zagueiro Maximiliano Patric Ferreira, o Max do Botafogo-SP, faleceu após um desmaio durante o treino coletivo em Ribeirão Preto, em São Paulo. No caso de Foe, os exames não revelaram a causa exata da morte. Já o médico que socorreu Max informou que ele teve uma convulsão (descarga elétrica anormal no cérebro), que pode ter sido o primeiro sinal da parada cardíaca que o matou.

A morte desses atletas é um acontecimento dramático. Eles eram
jovens e estavam em plena forma física. Porém, sofreram o que os especialistas classificam de morte súbita – a que acontece no prazo
de até 12 horas após o início dos sintomas. Rara entre esportistas, considerados exemplos de saúde, a morte súbita é impressionantemente frequente entre os indivíduos sem tanto preparo físico. “Ela é a primeira causa de perda de vidas humanas. Mata mais gente todos os anos do que a somatória anual dos casos de câncer, infarto e Aids”, explica o fisiologista Paulo Zogaib, diretor da Clínica de Medicina Esportiva do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. As principais causas são ataques cardíacos, malformação congênita do coração e aneurisma cerebral (dilatação e ruptura de uma artéria).

E, apesar de o problema ser comum, o socorro às pessoas com risco de morte súbita muitas vezes não segue os padrões recomendados. “O caso de Foe, por exemplo, não foi bom. As manobras de ressuscitação demoraram pelo menos sete minutos, o que é muito, e não havia desfibrilador na beira do campo, como mandam as regras internacionais de suporte básico de vida”, critica o cardiologista Sérgio Timerman, coordenador da área de suporte de vida e desfibrilação do Instituto do Coração, de São Paulo. Para evitar situações desse tipo, ele e sua equipe dão cursos de treinamento em escolas e empresas e lutam pela implantação das diretrizes de atendimento de emergência e desfibriladores em locais de grande fluxo de pessoas no Brasil, como aeroportos, rodoviárias e estádios de futebol. Os aparelhos portáteis de desfibrilação, disponíveis nos Estados Unidos em ambulâncias e até em carros de polícia, fazem um eletrocardiograma imediato para verificar se há fibrilação cardíaca (uma espécie de descompasso elétrico que altera os batimentos e pode levar à parada cardíaca). Em caso positivo, o aparelho dispara um choque de intensidade calculada para restituir um ritmo mais normal ao coração. O choque se repete se os batimentos não se corrigirem. “O acesso rápido ao socorro e desfibriladores significa a diferença entre a vida e a morte. A cada minuto que a pessoa fica sem socorro após uma parada cardíaca, perde 10% nas chances de sobreviver e aumentam os riscos de seqüelas neurológicas”, explica.

Aqui, os desfibriladores começam a ser implantados. Eles já existem no Aeroporto Santos Dummont, no Rio de Janeiro, e em pontos de grande circulação em Londrina, no Paraná. A companhia aérea Varig também carrega os equipamentos em seus aviões. Há ainda a lei do torcedor, já em vigor, que obriga os estádios e ginásios a ter equipes de suporte básico de vida treinadas e equipadas com desfibriladores. A maioria tem contratado equipes terceirizadas. Além disso, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que determina a instalação do equipamento em locais públicos no País. De acordo com Timerman, a medida salva vidas. “Nos cassinos de Las Vegas, nos Estados Unidos, a adoção de diretrizes de atendimento e desfibriladores fez as chances de sobrevivência passarem de 4,5% a 7% para 71%. Nos aviões, onde as chances eram zero, agora são de 40%. E no aeroporto de Chicago, muito bem equipado, as chances subiram de 2% para 56%”, diz o cardiologista.