Medo de dentista é universal. Em qualquer parte do mundo, esbarra-se em pessoas com pavor dos instrumentos usados ou do barulhinho do motor do aparelho utilizado para tratar cáries. Mas os tempos mudaram. Equipamentos sofisticados, laser e ultra-sons estão colaborando para que o atendimento seja cada vez mais indolor. Além disso, a maior consciência em relação aos cuidados com os dentes está fazendo com que os problemas sejam diagnosticados rapidamente e, portanto, apresentem menor gravidade. Hoje é difícil, por exemplo, ser preciso extrair um dente. “Antigamente, o dentista era até motivo de ameaça para crianças que não se comportassem direito. Ele era sinônimo de arrancar dente. Atualmente, extração é um dos procedimentos menos feitos nos consultórios”, afirma Henrique Teitelbaum, presidente da Associação Brasileira de Odontologia.

O novo aparato tecnológico é variado. Uma das principais fontes de terror – o barulho do motor da broca – já conta com alternativas bem menos assustadoras. Uma delas é um aparelho de ultra-som com uma ponta de diamante usado para retirar o tecido atingido pela cárie. É mais silencioso do que a broca e também provoca menos dor.

Uma das inovações mais interessantes é em relação à anestesia. Esqueça a velha e enorme seringa. Os profissionais têm à disposição um equipamento que aplica o anestésico em velocidade constante e em uma temperatura semelhante à do corpo. Esse processo faz com que quase não se sinta a aplicação. “Na injeção convencional, o que dói é a entrada do líquido. Quando é injetado manualmente, a velocidade nunca é constante e a temperatura é mais fria do que a do corpo”, explica o dentista Marcos Pinto, de São Paulo. Retirar o tártaro também é menos traumático. O que antes era feito com a raspagem do dente agora pode ser realizado com ultra-som. “As ondas explodem o tártaro. Não dói e não machuca a gengiva”, garante Pinto.

Mas é o laser a vedete dos consultórios. Ele vem sendo usado para diminuir a sensibilidade dentária de quem tem recuo de gengiva e no clareamento dental. Nesse caso, o tratamento é feito em três horas, sem dor. Muitos profissionais apelam ainda para instrumentos que diminuem a ansiedade dos pacientes ao permitir que eles saibam o que está acontecendo. O mais comum é filmar a boca do paciente e mostrar a ele o que será feito. “Entender o porquê do tratamento reduz o medo”, diz o dentista Luciano Krebs, de Brasília. Quem experimentou as maravilhas tecnológicas sabe que elas espantam o medo. “Cheguei a fugir da sala de espera de consultórios porque ouvi o barulho da broca. Hoje não sinto mais dor”, conta a estilista Lili Carvalho, de São Paulo. Contra o medo, aliás, há saídas inusitadas. Quem vai ao consultório de Maria José Moço, em São Paulo, é acalmado de maneira única. Ela canta enquanto trata seus pacientes. Além de ocultar o barulho, a cantoria distrai. E Maria José capricha no repertório de MPB de ótima qualidade. “Passar confiança e descontrair o momento do tratamento é fundamental. O meu canto desvia a atenção daquilo que eles têm medo. Alguns até me corrigem quando canto errado”, afirma.

 

Erros de postura

Você provavelmente ficaria surpreso ao entrar no consultório do dentista e ele analisar sua postura. Se a cena acontecer, não se assuste. A avaliação faz parte de uma abordagem do tratamento baseado no fato de que a postura influencia o desenvolvimento ósseo do sistema bucal. Não por acaso, o nome do método é ortopedia funcional dos maxilares. O interesse pela técnica cresceu tanto que, a partir deste ano, o Conselho Federal de Odontologia criará cursos sobre o assunto. A diferença no atendimento feito por dentistas adeptos da técnica começa na primeira consulta. Eles fazem uma análise dos movimentos do paciente porque acreditam que, se os eventuais desvios de postura não forem resolvidos, não adianta corrigir os dentes. Há casos, por exemplo, nos quais o paciente sofre de escoliose (desvio lateral da coluna), problema que ocasiona um desvio no eixo central da cabeça – ela pende levemente para a lateral. “Assim, ao mastigar um alimento nota-se que a mordida será mais acentuada de um lado da boca”, explica o dentista Lindbergue Alves. “O indivíduo irá mastigar do lado mais confortável, causando maior desgaste dos dentes do lado mais exigido”, completa a dentista Marianne Mersson, de São Paulo. O tratamento inclui o uso de aparelhos. Se a mordida está comprometida numa parte da boca, por exemplo, usa-se um aparelho para igualar os dois lados. Mas são corrigidos também os vícios de postura, com
a ajuda de especialistas de outras áreas. Há casos em que entram
em cena otorrinolaringologistas. Eles auxiliam no tratamento para correção de respiração bucal (o paciente tem uma obstrução que
o obriga a respirar pela boca. Com o tempo, isso resulta em uma mordida desalinhada). Foi o que aconteceu com Stephanie Cruz,
13 anos, de São Paulo. Seu tratamento foi feito em conjunto com
um otorrino. “Hoje, ela respira melhor e sua dentição está em
ordem”, conta a mãe, Vilma.