Mais do que de ações, um governo também vive de símbolos. Para uma liderança popular e carismática como a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem relação direta com o povo e sabe como poucos falar a linguagem do brasileiro médio, qualquer gesto tem significado que transcende o imediato. O fato de colocar um boné do MST deveria terminar com a foto nos jornais e as imagens na televisão. Assim como aconteceu com a visita das estonteantes Sheilas, dançarinas de axé, que estiveram com Lula no mesmo dia e serviram de inspiração para os chargistas de plantão. No episódio do boné, os três segundos que o pedaço de pano passou pela cabeça presidencial podem dar muita dor de cabeça. Talvez o momento não tenha sido mesmo muito feliz. O mimo aconteceu logo agora que a situação no campo recrudesce, quando fazendeiros voltam a falar em milícias armadas, sem-terra radicalizam e partem para novas e violentas invasões. Pode ter sido inoportuno, mas é coerente com os seis meses de Lula na Presidência. Consta que ele convidou a UDR para um encontro. Nada mais natural. Assim como em sua lapela a estrela vermelha foi substituída pelo mapa do Brasil, também seria natural que em encontro com a UDR, boné da UDR. Encontro com o MST, boné do MST.

Para a oposição, PFL à frente, foi um prato cheio de mágoa. Num momento de tensão, chegou-se a falar em impeachment. Menos. Um boné, por mais metafórico que possa ser, é apenas um boné. Lula gosta muito deles. Já andou com vários na cabeça. Fernando Henrique nem tanto. É uma questão de estilo. Querer transformar algo tão banal numa crise política é perigoso. Leva ao impasse institucional que não interessa a ninguém, principalmente num momento em que o transatlântico – em que todos estamos – começa a tentar se mexer rumo ao tão sonhado “espetáculo do crescimento”. É hora de maturidade. Não de oportunismo. E também de menos maldade e menos ingenuidade.