Praia de brasileiro, em julho, é neve. As estações de esqui da Argentina e do Chile se firmaram entre os destinos mais disputados durante o inverno. Tanto que algumas das operadoras até já esgotaram suas cotas para este mês e começam a desaguar os pacotes de agosto. Tanto melhor. A neve nos vizinhos gelados só expira em outubro, na maioria das estações, e, em algumas delas, atinge seu auge em setembro. Festa garantida para esquiadores profissionais, amadores ou mesmo para quem quer arriscar os primeiros passos (e os primeiros tombos) no gelo. Se durante muitos anos as melhores estações ficaram sob a tutela dos esportistas de carteirinha, o turismo popularizou a prática e tornou o esqui acessível aos marinheiros de primeira viagem. Quem nunca teve a oportunidade de passar as férias embrulhado em roupa impermeável pode tomar o avião sem hesitar. Em todas as estações, instrutores ensinam o bê-á-bá e garantem deliciosas jornadas ladeira abaixo. Mesmo que fiquem restritas às pistas verdes, recomendadas aos iniciantes.

Em Las Leñas, a 1.212 quilômetros de Buenos Aires, na região argentina de Mendoza, 120 instrutores se revezam no comando de aulas individuais e coletivas. Duas horas de aula em grupos de 12 alunos custam 66 pesos na alta estação, o equivalente a R$ 73. Quem quiser exclusividade paga 77 pesos (R$ 85) e fica uma hora com um instrutor à disposição. “Perder o medo e descobrir o equilíbrio são as grandes obrigações dos iniciantes. Depois disso, a habilidade é conquistada na prática”, promete o diretor da escola de esquis, Vito Ramonda, 36 anos. “Ministramos aulas para crianças a partir dos três anos e meio. É comum ver meninos e meninas descerem a pista Vênus, ideal para iniciantes, com chupeta na boca”, diz ele. Tudo isso faz com que mesmo quem nunca esquiou se aventure sobre as tábuas. O advogado Antônio Carlos Menezes Rodrigues, 47 anos, e sua mulher, a administradora Marta, 46, deixaram a Bahia no final de junho determinados a vencer um jejum de cinco anos admirando as rampas de longe. Contrataram, por três dias seguidos, aulas particulares de uma hora em Las Leñas. “Fomos a Valle Nevado em 1999 e não esquiamos. Desde então, todo ano visitamos uma nova estação, mas nunca havíamos conseguido aproveitar a pista como nossos filhos”, diz Antônio Carlos, pai de Rodrigo, 15 anos, e Renata, 12. “O principal é ter coragem. Os instrutores nos convencem de que somos capazes de ficar em pé sobre os esquis”, diz Marta.

Depois de conhecer Valle Nevado, Bariloche, Termas de Chillán e Chapelco, pela primeira vez a família de Salvador se viu em uma estação onde tudo conspira para empurrar os hóspedes à pista. Apesar dos ótimos restaurantes, do cassino, do míni-shopping e da danceteria que integram a estrutura de Las Leñas, os 70 quilômetros que a separam de Malargüe, a cidade mais próxima, a tornam um parque projetado para garantir total imersão nos esportes de neve. Talvez por isso, a estação – com 40 pistas e a maior área reservada a praticantes de “esqui extremo” (o esqui fora de pista) da América do Sul – seja uma das preferidas pelos experts. Já a chilena Pucón, por exemplo, é ideal para aqueles que ainda não estão convencidos de que escorregar por montanhas geladas é uma delícia. Principal destino de ecoturismo e esportes de aventura do Chile, Pucón, a 870 quilômetros ao sul de Santiago, é cercada por parques nacionais, como o de Huerquehue, com excelentes trilhas e está a apenas 14 quilômetros do vulcão Villarica, ainda ativo. Isso significa que, se após os primeiros escorregões o turista desistir das pistas, não faltam opções de entretenimento. Mas, se sobrar uma réstia de coragem, Pucón reserva 30% de suas pistas a iniciantes.

Vista – A uma altitude de 1.200 metros, o centro de esqui de Pucón oferece uma vista de tirar o fôlego. As 27 pistas ficam bem no
meio de bosques e picos, numa área de 850 hectares, e possuem pequenos cânions formados por lava coberta de neve e desníveis
de até 700 metros. O ponto mais alto fica a 1.840 metros de altitude,
de onde é possível ver os cinco lagos – com praias de areia negra, de origem vulcânica – que cercam a região. “O centro de esqui tem características únicas, com pistas ideais para principiantes no bosque
e para profissionais na parte alta, com descidas que formam ângulos
de mais de 45 graus”, explica Antonio Lobos, professor responsável
pelas aulas na estação de esqui. A aula em grupo custa US$ 22 (R$ 64) por hora e a individual, US$ 36 (R$ 104). A dica é investir nas aulas
de snowboard. Sede do campeonato mundial da categoria, Pucón possui as melhores rampas naturais da América do Sul para a prática dessa espécie de surfe na neve.

Escolher o melhor destino para passar as férias nunca é fácil. Cada local reserva seus segredos, seus atrativos e uma paisagem característica. Em todas as estações, os pacotes turísticos são de oito dias e sete noites. Para ajudar na árdua tarefa da escolha, ISTOÉ preparou um quadro com as mais importantes dicas, a média de preços e as principais operadoras de turismo que vendem pacotes para esses lugares. Antes de fechar negócio, certifique-se de que estejam incluídos no pacote aluguel de equipamento e passe livre aos meios de elevação nas montanhas (os chamados skilifts). Caso contrário, cheque as tarifas cobradas na estação para calcular o preço da aventura. Lembre-se de que todas as estações alugam botas, esquis, bastões e pranchas de snowboard, mas poucas disponibilizam aluguel de roupas e luvas adequadas. Aproveite o frio e não esqueça o protetor solar.