Foi-se o tempo em que a roupa servia apenas para cobrir ou embelezar o corpo. A moda agora são roupas com mil e uma utilidades, que hidratam a pele, protegem-na do sol e não sujam. Os responsáveis pela mudança de conceito são os tecidos inteligentes, que agregam mais valor às peças e atendem cada vez mais às exigências da vida moderna. “Num futuro próximo, será obrigatório que a roupa traga benefícios e dê proteção”, diz Sílvia Debs, gerente de marketing da Santista Têxtil, que lança mundialmente um tecido hidratante.

Com um investimento de R$ 45 milhões, o Moist Care foi desenvolvido com microcápsulas recheadas de hidratante natural para ajudar a manter a umidade da pele. Por enquanto, só as mulheres se beneficiarão da técnica, criada por uma empresa química alemã. Como o processo é ativado pelo atrito do corpo com a roupa – que provoca o rompimento dos milhões de microcápsulas –, os modelos femininos justos de algodão e elastano são os mais eficientes para testar a novidade, que estará nas lojas em forma de roupa no Natal. A Santista planeja adaptar o tecido para virar protetor solar.

Existe hoje uma tendência mundial pela valorização de tecidos funcionais. Um exemplo é a linha de uniformes que se comunicam com o ambiente de trabalho. Nesse caso, a roupa é que é inteligente. Em sua confecção são inseridos chips que dispensam o crachá do funcionário, tornando possível localizá-lo onde ele estiver.

Como a criatividade humana não tem limite, estão em fase de testes os tecidos com microcápsulas recheadas de remédio para serem absorvidos através da epiderme. Há ainda roupas perfumadas e outras com fibras que funcionam como condutores elétricos para ativar a circulação e melhorar a oxigenação, indicadas para aliviar o stress. Se as panelas equipadas com teflon, película que impede que o alimento grude, já é um sucesso nas cozinhas do mundo todo, imagine o furor quando as roupas da Dockers, grife internacional de roupas masculinas, chegarem nas prateleiras brasileiras. Suas calças e camisas são tratadas à base de teflon e repelem café, vinho, molhos, sucos, leite ou qualquer outro líquido. A tecnologia, da Du Pont, evita que os líquidos ou semipastosos derramados se dividam em gotículas que mancham o tecido. A empresa também trabalha com peças de tricô com fios vegetais, algodão que não amassa e tecidos semi-impermeáveis.

A tecnologia usada pela Dockers tem seus inconvenientes. O primeiro é o preço, que encarece em até 20% o produto final. O outro é a durabilidade. Calcula-se que essas roupas comecem a perder as propriedades a partir da 40ª lavada – o que equivale a aproximadamente três anos. “Aconselha-se que, a cada cinco lavadas, a peça seja bem passada para reativar a memória da resina aplicada”, explica Silvia Molina Bueno, a designer da Dockers.