A crise (real) do boné
Por trás da brigalhada em torno dos três segundos em que Lula pôs na cabeça o boné do MST, há uma crise muito mais profunda em gestação na base do governo. Até mesmo dentro do PT. Uma parte dos petistas acha que Lula fez muito bem. Acenou para o País que é terminada a fase economicista do governo. Que o presidente agora vai olhar mesmo para a questão social nas cidades e no campo. Outra parte do PT acha que não era hora de provocar a direita. Em uma solenidade no Planalto, na sexta-feira 4, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deixou bem claro de que lado estará nessa guerra: “Eu acho que quem tem patrimônio tem que defender o patrimônio. Senão, não tem direito de terra.’’ Questionado se a defesa armada seria adequada, indagou: “Qual outra maneira você acha?’’ Depois correu atrás dos jornalistas para desculpar-se pelo “escorregão”. Não foi um escorregão. É que agora começou de fato a discussão sobre o caráter do governo: se ele vai para a esquerda ou para a direita. E essa briga já está correndo solta na cúpula governista.


Semestre decisivo para a energia

Depois do calote da AES e, agora, da Light, o segundo semestre promete ser recheado de emoções no setor de energia. As subsidiárias brasileiras do grupo AES, dos Estados Unidos, têm de pagar dívidas superiores a US$ 1,2 bilhão. A Cesp terá de saldar débitos de US$ 775 milhões. E a Eletrobrás, esteio estatal do setor, vai ter de resolver o que vai fazer com seu passivo de US$ 3,5 bilhões.

Bilionário tapete voador

A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira prevê que o Brasil poderá se beneficiar de uma fatia dos investimentos dos países árabes que estão migrando das fronteiras americanas desde 11 de setembro de 2001, quando ocorreram os atentados terroristas em Washington e Nova York. Estima-se que US$ 100 bilhões já partiram para outras praças.

O “Pai-Nosso” de Mão Santa

Do senador Mão Santa, do PMDB do Piauí, na tribuna do Senado: “Senhor presidente, senhoras e senhores senadores, brasileiros e brasileiras: como este pronunciamento é transmitido pela TV Senado, serei breve. Entendo que o melhor discurso na história do mundo foi o pai-nosso, que tem só 56 palavras…” Mão Santa fez um discurso de exatas 1.539 palavras, 28 vezes maior que a popular oração católica.
 

Briga em família

A ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB-MA) está apoiando seu antigo desafeto, o cunhado Ricardo Murad (PSB), para candidato a prefeito de São Luiz. Seu irmão, Zequinha Sarney, hoje um esquerdista de carteirinha avisa: “Se Roseana esqueceu o que o Ricardo fez, é problema dela. Eu tenho memória.”

Em causa própria
O presidente do STF, Maurício Correia, recebeu na quinta-feira 3 dois grupos de parlamentares, do PFL e da bancada evangélica. A ambos ele sugeriu que o Congresso amplie de 70 para 75 anos a idade máxima dos magistrados na ativa. Como se sabe, aos 70 anos, no início de 2004, Maurício Correia será compulsoriamente aposentado.


Esqueçam o que escrevemos

Maldade mesmo fez o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL). Ele pediu o desarquivamento do projeto de emenda constitucional nº 301. O autor do texto, datado de novembro de 2000, era o então deputado José Dirceu, com assinaturas de apoio dos colegas Aloizio Mercadante e (pasmem!) Antônio Palocci. Propõe simplesmente o seguinte: “Que seja estabelecido limite para a despesa total com o pagamento de juros e encargos da dívida da União.” Mais: “A vedação do uso de recursos provenientes de receitas de capital para o pagamento de juros.” Hoje, certamente nem Dirceu nem Mercadante, e muito menos Palocci, aceitam tal projeto.
 

Rápidas

• O ministro Márcio Thomaz Bastos informou a parlamentares que é contra a súmula vinculante, única proposta que vinha tendo consenso na reforma do Judiciário.

• Ele também não queria apressar a reforma do Judiciário no Congresso. É que acaba de ser criada uma secretaria específica para tratar do assunto no Ministério da Justiça.

• Difícil é aprovar uma lei em Tocantins, sem ser governista. Pela primeira vez na história um deputado, Maurício Rabelo, rompeu o cerco: instituiu 2004 como o Ano da Mulher.