O casamento do PMDB com o governo Lula começa a entrar em crise. A língua solta do presidente petista é um dos motivos do desgaste. O partido chega a falar em rompimento, o que seria uma tragédia para o governo, que não pode perder 22 senadores e 68 deputados e destruir uma aliança mais do que necessária para aprovar as reformas e demais projetos de interesse do Planalto. O pomo da discórdia é o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), que recebeu uma alfinetada de Lula, protestou e ganhou o endosso e a proteção de todo o seu partido, incluindo o presidente, Michel Temer (SP), e José Sarney (AP), presidente do Senado e principal articulador da aliança. “O PMDB nacional lamenta e repudia a atitude do PT do Distrito Federal, cuja ação política põe em risco a aliança formalizada pelo partido com o governo federal, podendo significar abalo à governabilidade do País”, diz a nota, divulgada na quarta-feira 2 e assinada por Michel Temer, Renan Calheiros (AL), líder no Senado, e Eunício Oliveira (CE), líder na Câmara. “Roriz tem incondicional apoio político e jurídico do PMDB,” garantiu Temer.

O rebuliço começou na sexta-feira 30 de maio, quando Lula, num encontro com vereadores e deputados estaduais do PT, chamou Geraldo Magela, candidato derrotado por Roriz, de “futuro governador de Brasília, se Deus quiser”. O comentário presidencial soou mal, já que o mandato do peemedebista corre risco de cassação. Em sinal de protesto, Roriz foi o único que não compareceu a uma reunião entre o presidente e os governadores. Também não foi ao lançamento do Programa Primeiro Emprego, na segunda-feira 31. Mandou em seu lugar a vice-governadora, Maria de Lourdes Abadia, do PSDB, que foi vaiada em pleno Salão Nobre do Palácio do Planalto. No dia seguinte, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio de Mello, concedeu liminar que suspende o processo de cassação de Roriz, ação proposta pela coligação liderada pelo PT de Magela. Na ação, Roriz e sua vice são acusados de uso indevido da máquina em benefício de suas candidaturas. Agora, o STF vai analisar os recursos impetrados pelos advogados de Roriz e a decisão final não tem data definida.

Assim que saiu a liminar, os caciques peemedebistas se reuniram e redigiram a nota, que, indiretamente, radicaliza a já difícil relação entre PMDB e PT. E mais: manda claro aviso ao Planalto de que ataques ao governador Roriz extrapolam os limites locais e ameaçam a aliança nacional. Afinal, até agora, o PMDB está esperando o que o PT prometeu em troca do apoio: cargos em ministérios e órgãos federais. Ou seja: o imbróglio Roriz pode ter sido o pretexto que o partido de Temer queria para pressionar os petistas. De qualquer forma, há quem diga que não há chance de o PMDB deixar a base. Além de ser um partido já habituado à proximidade com o Planalto, teme perder quadros para outras legendas governistas, caso rompa com o PT. Até parlamentares petistas admitem que é bom o presidente Lula controlar seus comentários impetuosos,
se quiser aprovar os projetos que interessam ao governo. E até para
que não seja em vão o esforço que o ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, tem feito para conquistar parlamentares e garantir
maioria no Congresso.