Contrariando ou ironizando o título Supernova da faixa de abertura de Cosmotron, sétimo álbum de estúdio da banda mineira Skank, o que se ouve não é novidade, mas sonoríssimos ecos dos Beatles. E assim acontece em quase todo o disco. A inspiração portentosa, no entanto, não tira os louros dos quatro integrantes do Skank. Mesmo porque eles não são os únicos – no Brasil e no Exterior – a buscar referências nas profícuas décadas de 1960 e 1970. Na verdade, o grande mérito do grupo do vocalista e guitarrista Samuel Rosa está em conservar a verve adolescente dos leves encontros com a felicidade instantânea que suas músicas proporcionam. Quem, numa pista, resiste aos apelos de É uma partida de futebol, Pacato cidadão ou Garota nacional? Mas, ainda falando em Beatles, um bom exemplo é como a guitarra solo chora lembrando a de George Harrison em As noites. Ou como a ensolarada balada Dois rios remete, na construção melódica, à primeira fase do conjunto inglês.

No grupo personalizado, Pegadas na lua introduz aquela levada pop aerada, tão característica do Skank. Nômade mistura elementos eletrônicos à essência da música árabe, num criativo e potente agrupamento sonoro que poderia ser trilha de alguma rave em tendas do Sahara. Vou deixar traz uma indefectível alegria, a exemplo das cantigas de roda, como definiu uma língua bifurcada o trabalho do Skank. É daquelas canções luminosas, formatadas para animar qualquer festa ou meio de show. Mas dá-lhe uuuh-lálá à maneira dos eternizados corinhos de George Harrison e Paul McCartney. Formato mínimo traça o conluio da frieza da bateria eletrônica com o suave dedilhar de um violão – intermediados pela delicadeza inventada de teclados – para contar uma história típica dos tempos modernos na melhor letra do disco, de autoria de Rodrigo F. Leão. Novamente, porém, nos recursos de voz trabalhada em estúdio, quem surgem nos créditos inconscientes?…, eles, os Beatles. Por fim, o encontro com a modernidade aparece no vigoroso rock Os ofendidos e em Sambatron e seus sintetizadores e ruídos pilotados por uma banda que demonstra ter largado de vez a Jamaica de Bob Marley para se ligar – com diversão, é verdade – na Inglaterra dos Beatles. Bem-vindo, Skank, ao seu filme De volta para o futuro.