Quem passeia pelas ruas de comércio popular do País às vezes pode ter a sensação de estar caminhando pela 5a Avenida, em Nova York (EUA). A cada estabelecimento, chamativos acessórios ostentam os logotipos de algumas das grifes mais desejadas do planeta. Versões piratas de bolsas da Louis Vuitton, Chanel, Gucci e Prada são vendidas à luz do dia por um preço bem menos salgado. Enquanto isso, nas lojas voltadas às consumidoras mais abastadas, um outro tipo de imitação cresce no embalo dos lançamentos das grandes casas de moda. São as chamadas homenagens ou produtos inspired, versões de itens de luxo produzidas por empresárias tupiniquins para atender à demanda de consumidoras que não podem (ou não querem) pagar por uma criação legítima. Mas, ao comparar os “inspirados” com seus respectivos originais, fica a pergunta: qual a diferença para as cópias declaradas dos produtos populares?

A marca paulistana 284, das herdeiras da Daslu Heleninha Bordon, Luciana e Marcella Tranchesi, lançou em 2010 uma versão nacional da bolsa Birkin, da Hermès. Batizada de “I’m not the original” (“Eu não sou a original”), ela saía da loja por R$ 399, preço alto para um simples exemplar de moletom, mas bem abaixo do praticado pela grife francesa, cujo modelo pode custar até R$ 91 mil. A reprodução fez tanto sucesso que chamou a atenção da Hermès. Em janeiro, a maison entrou com um processo exigindo que a produção, manutenção e comercialização do acessório fossem taxadas com uma multa de R$ 10 mil por dia. Em defesa, as empresárias declararam que se tratava apenas “de uma forma divertida de homenagear grandes ícones da moda” e suspenderam a venda.

Outra homenagem que tem gerado polêmica envolve a marca de calçados brasileira Melissa, da Grendene, e ninguém menos do que a cantora Madonna. A loja de departamentos americana Macy’s está vendendo uma sapatilha de plástico muito semelhante ao modelo Zig Zag, criado em 2006 em parceria com a dupla de artistas plásticos Irmãos Campana. Ela faz parte da linha Material Girl, criada por Madonna e sua filha Lourdes Maria. Na versão gringa, o sapato custa cerca de R$ 34, menos da metade do valor cobrado pelo original, R$ 100. “Tomamos um susto quando vimos a sapatilha. Ela é muito parecida com a Zig Zag”, conta Raquel Scherer, coordenadora de marketing da Melissa. A marca estuda quais providências tomar para impedir a comercialização do produto lá fora.

Segundo o advogado Jacques Labrunie, professor de direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é pirata qualquer produto que se faz passar pelo original. “As imitações e homenagens são menos ‘cara de pau’, mas também mais discutíveis”, diz. Para Suzane Strehlau, professora do curso de marketing de luxo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), as cópias de objetos desejados são uma estratégia antiga. “As tendências de vestuário são passadas dos líderes para a massa em um processo de difusão, que inclui versões e imitações”, diz Suzane. “Sem essa popularização, não haveria a moda.” Resta às marcas o desafio de criar produtos cada vez menos copiáveis. 

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