O conceito de Belíndia, criado em 1974 pelo economista Edmar Bacha para descrever a desigualdade brasileira juntando a desenvolvida Bélgica com a atrasada Índia, nunca esteve tão atual. Pelo menos no que se refere aos dentes dos brasileiros. O modelo de Bacha se encaixa no país dos desdentados: 30% dos brasileiros nunca foram a um dentista e apenas 15% podem frequentar consultórios dentários particulares. Mas esses 26 milhões de pessoas podem escolher o que há de melhor em tratamento, com nível de Primeiro Mundo. Uma amostra do que há de mais moderno em matéria de tratamento dentário será vista no 16º Congresso Internacional de Odontologia, que deve levar 30 mil profissionais do mundo ao Rio de Janeiro, de 12 a 16 de julho. Uma das áreas que têm se desenvolvido é a odontologia estética, sobretudo a do clareamento. Segundo o especialista em prótese Antônio Salazar Fonseca, diretor da Escola de Aperfeiçoamento Profissional dos Cirurgiões Dentistas de São Paulo, a mania de clarear os dentes foi importada dos americanos, que criaram a técnica há dez anos. “Dente branco traz jovialidade”, justifica Salazar. Eleito campeão do sorriso pela Sociedade de Odontologia Estética, o ator Luigi Baricelli, 31 anos, fez clareamento no ano passado. “Na verdade, não precisava, mas, como tomava muito café, achava que meus dentes estavam amarelando”, conta.

O método que Salazar considera mais eficaz é o doméstico. Ele consiste na realização de uma moldagem da boca do paciente, sobre a qual é confeccionada uma placa de plástico, que recebe o produto clareador. O Brasil fabrica há seis anos o peróxido de carbomida, substância que libera oxigênio em contato com a gengiva e torna o dente mais branco. O cliente dorme de seis a oito noites com o produto e a durabilidade é de até três anos. Custa de R$ 100 a R$ 300, por arcada dentária. A atriz carioca Ciça Guimarães, 45 anos, turbinou seu belo sorriso com o método. “É chato dormir de aparelho, mas adorei o resultado”, diz. Existe ainda a alternativa do clareamento feito no consultório com peróxido de hidrogênio, ativado por uma luz (pode ser pelos tipos de luz halógena, por laser ou led – light emission diode), para aumentar a liberação de oxigênio. O resultado ocorre em apenas uma consulta, mas o preço é bem mais salgado: de R$ 100 a R$ 200, por dente.

No Brasil, a maior novidade em clareamento, no entanto, é a chegada de uma fita para ser colada aos dentes. A Crest Whitestrips contém um gel também à base de peróxido de hidrogênio que pode ser usada  por meia hora, duas vezes ao dia, o que torna o tratamento mais prático. O produto será vendido por dentistas. “Mas ainda não sabemos sua real eficácia, por se tratar de um recurso novo”, afirma Luciano Krebs, integrante da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética. Há pouco tempo, outra novidade desembarcou por aqui. Os chicletes funcionais, além de serem docinhos (mas sem açúcar, claro), têm substâncias
que devolvem o branco natural dos dentes. O Trident White e o Happydente apresentam fórmulas diferentes, mas prometem a mesma ação clareadora. “O escurecimento do dente é normal. Muitos alimentos como café e chocolate vão se depositando nos poros dos dentes
e os deixam amarelados”, explica a dentista Marianne Merson. O que as gomas fazem é remover esses resíduos. Por isso, não podem
ser comparadas aos clareamentos feitos no consultório, que realmente deixam o dente branco.

Nos consultórios, as restaurações invisíveis, obtidas por meio do uso de porcelana e resina, também são bastante procuradas. Elas apresentam maior resistência e oferecem melhor acabamento. O magnífico sorriso da modelo fluminense Luma de Oliveira, 39 anos, tem a cor natural, mas seus dentes da frente receberam pequenas restaurações de resina e as antigas obturações foram trocadas por porcelana. “Comi muito açúcar quando criança e tenho de visitar os dentistas periodicamente”, diz a bela. Há também adesivos líquidos feitos a partir das resinas que passaram a complementar as obturações. Depois que a cárie é removida, o dentista usa um ácido para criar porosidade e acrescenta o adesivo líquido para facilitar a fixação da restauração a ser colocada posteriormente. “As novas restaurações já não caem como as de antigamente”, diz o odontologista estético paulista Reinaldo Sanches, do Grupo Brasileiro de Professores de Dentística.
 

A última palavra em matéria de sorriso perfeito, no entanto, são as facetas laminadas de porcelana ou resina. Na verdade, trata-se de coberturas finíssimas, parecidas com uma unha, que encobrem os defeitos indesejáveis e podem mudar a cor, o formato e o alinhamento dos dentes. O problema é que sua instalação requer um desgaste do dente, de meio a um milímetro, variando de acordo com a tonalidade. “Se o dente for mais escuro, é preciso desgastar um pouco mais”, observa o ortodontista carioca Felipe Falcão. Em casos de suaves acasalamentos, o dentista pode fazer um desgaste maior ou menor nos dentes acasalados antes de instalar a faceta, de tal forma que o sorriso se pareça com o de quem usou aparelho durante dois anos. “Por dentro a pessoa sente os dentes acasalados com a língua, mas por fora não se vê”, completa Falcão. O método também pode resolver o problema de dentes espaçados, como os de Ronaldinho. “É só colocar a faceta um pouco maior do que o dente para fechar os espaços”, esclarece. Uma faceta é instalada em duas consultas e dura de oito a dez anos.

No esforço para iluminar o sorriso dos clientes, os especialistas estão apostando na odontologia interdisciplinar, caracterizada pela integração das áreas da especialidade com o objetivo de proporcionar uma dentição perfeita. O periodontista corrige problemas nas gengivas, o ortodontista faz o alinhamento e o ortodontista estético, o clareamento e a correção de imperfeições. O dentista Falcão, por exemplo, já chegou a mandar pacientes completarem a repaginação bucal com cirurgiões plásticos para mudar o tamanho dos lábios.

Outra área que se desenvolveu bastante foi a dos implantes. O que há de mais moderno são as raízes de titânio, implantadas cirurgicamente junto com um pino e uma coroa de cerâmica. Fica idêntico ao dente. Seria o paraíso para o País dos desdentados não fossem os custos – de R$ 2,5 mil a R$ 5 mil por dente. Dezoito a 15 implantes podem substituir a antiga dentadura – apesar de a boca ter 32 dentes, a implantação pode ser feita com intervalos, de forma que os espaços sejam preenchidos por dentes falsos suspensos.

Na área de ortodontia, os aparelhos fixos de ligas de metal (os velhos sorrisos blindados) permanecem. Mas a melhora é que o tratamento de dois anos já pode ser feito em um ano e meio, com resultados mais perfeitos por causa da evolução dos materiais e da qualidade do diagnóstico, feito por computador. A colocação e a movimentação dos dentes também doem menos. O aparelho de cerâmica (de R$ 3 mil a R$ 5 mil) tem a vantagem de ser invisível, mas quebra muito. Por isso, o ortodontista paulista Newton Nogueira de Sá Júnior, por exemplo, só o utiliza em artistas. Júnior também não gosta de oferecer à clientela o aparelho do lado de dentro dos dentes porque é caro (R$ 10 mil), machuca a língua e atrapalha a respiração.

Um recurso que também chama a atenção é o laser, capaz de milagres em tratamentos bucais. Além de clarear os dentes e as gengivas, pode tratar cáries com menos dor, herpes, aftas e a mucosite oral (um efeito colateral das terapias contra o câncer que causa aftas que vão do aparelho digestivo ao ânus). Com o tratamento, em menos de uma hora os pacientes conseguem voltar a engolir. Os custos, mais uma vez, são o maior impedimento. As sessões nas quais o laser é utilizado custam cerca de R$ 500. “A precisão requer o uso de vários tipos de máquinas, que emitirão ondas de potências diferentes em um só dente”, explica a dentista Andrea Calmon, mestre em laser pela Universidade de São Paulo (USP). A boa notícia é que a USP possui o maior centro de tratamento odontológico a laser do mundo no Laboratório Experimental de Laser em Odontologia, onde o atendimento é gratuito.

E, se depender dos planos do Ministério da Saúde, a distância abissal entre os brasileiros desdentados e os de sorrisos iluminados tende a diminuir. Um levantamento nacional está sendo feito pela Coordenadoria de Saúde Bucal do Ministério da Saúde. Segundo o coordenador, Gilberto Pucca, a expectativa é examinar 127 milhões de pessoas e ampliar os gastos da área dos R$ 1,72 bilhão de 2002 para R$ 2,1 bilhões este ano. Também estão sendo discutidas mudanças curriculares nas universidades. “Faltam clínicos gerais, que podem resolver 60% dos problemas”, diagnostica o coordenador.

 

Sorrir faz bem

De perto, nenhum sorriso é igual. Belos dentes, é claro, deixam-no mais bonito. A questão, porém, é mais sutil. Ligeiro ou mais demorado, o sorriso expressa emoções diferentes. Reparando bem, dá para distinguir um sorriso receptivo de outro mais tímido, crítico ou daqueles dados apenas para cumprir o protocolo. E até se a pessoa ri para você ou de você. “Isso porque o sorriso sempre vem acompanhado de outros gestos e expressões”, explica Ana Bock, professora de psicologia social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Na opinião da psicóloga, o sorriso tem um lado fortemente cultural. “O povo brasileiro, por exemplo, usa muito a mímica facial para se comunicar. Em outros países, isso não é tão necessário”, analisa. Esse é um dos motivos que tornam o sorriso, entre nós, um excelente abre-alas. “Sorrir mostra receptividade e é uma forma agradável de iniciar uma relação. Ou então de expressar cumplicidade entre duas pessoas que tiveram a mesma percepção em determinada situação”, diz Ana.

Sorrir melhora as relações sociais e no trabalho. Uma aeromoça sorridente é bem mais tolerável do que uma de cara amarrada, concorda? E qual o cliente que não gosta de ser recebido com um sorriso? Na prática, ele mostra uma boa acolhida e ajuda a quebrar o gelo. A socialite carioca Vera Loyola, por exemplo, já passou por situações em que seu sorriso fácil aliviou o clima. “Mais de uma vez cheguei a um lugar e notei pessoas de cara feia que mudaram de expressão, se desarmaram diante de um sorriso”, conta. Não faz muito tempo, porém, boa parte dos candidatos a cargos eletivos insistia em manter um sorriso grudado no rosto. “Aí o sorriso vira um vício de expressão”, diz a psicóloga Ana. Ainda bem que os especialistas em marketing já apostam em expressões menos caricaturais.

O gesto também tem repercussão na saúde. Um simples sorriso movimenta no mínimo 12 músculos da face e cerca de 58 quando se transforma em uma risada sonora. Já a gargalhada massageia também o tórax e os músculos envolvidos na respiração. Isso aumenta a oxigenação e a irrigação sanguínea, o que beneficia
o funcionamento do organismo.