02/07/2003 - 0:00
Em pacote de medidas anunciado na quarta-feira 25 pelo governo federal vai forçar o sistema financeiro brasileiro a conviver com um país de quase 180 milhões de habitantes – um desafio e tanto para quem está habituado a atender uma parcela da população que nunca ultrapassou 50 milhões de pessoas. Inédito pela abrangência, o conjunto de decisões vai irrigar em R$ 4 bilhões a oferta de crédito popular e deve provocar “uma revolução para o financiamento das pessoas mais pobres”, nas palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Se tudo funcionar como deseja o governo, dentro de dois meses os milhões de excluídos do sistema poderão ser atendidos por um novo braço do Banco do Brasil, batizado pelo próprio Lula de Banco Popular do Brasil. O primo pobre do BB vai operar oferecendo crédito na faixa de R$ 200 a R$ 600, com uma taxa estimada em camaradas 2% ao mês – hoje é praticamente impossível uma pessoa física conseguir dinheiro emprestado a menos de 5% ao mês. A Caixa Econômica Federal também já está escalada para ajudar: há três semanas já é possível abrir uma conta no banco oficial sem burocracia e sem comprovação de renda – um modelo que de cara atingiu um sucesso enorme (dez mil contas desse tipo são abertas ao dia) e vai ser estendido à rede bancária privada, que está sendo sutilmente forçada a colaborar.
O dinheiro para bancar a oferta de crédito virá principalmente do empréstimo compulsório (depósito obrigatório feito diariamente pelas instituições no Banco Central). Dois por cento dessa bolada – ou R$ 1,5 bilhão – serão liberados para as operações de microcrédito.
Cada banco poderá optar entre deixar o dinheiro onde está – parado no BC – ou oferecê-lo à população de baixa renda, nos mesmos moldes da nova divisão do Banco do Brasil. Em épocas de apoio irrestrito às iniciativas de inclusão social fica difícil imaginar alguma instituição adotando a primeira alternativa. Até porque a Federação dos Bancos (Febraban) apoiou o pacote publicamente.
Outro ponto importante do pacote diz respeito às cooperativas de crédito, uma bandeira da campanha presidencial petista. As regras para
a criação de instituições desse tipo serão facilitadas. Comunidades bem organizadas – mesmo que pequenas e sem acesso ao sistema financeiro – serão as mais beneficiadas, já que poderão criar uma estrutura própria de financiamento. Um bálsamo para quem, mantida a atual estrutura elitista do sistema financeiro, muito provavelmente passaria a vida sem viver a prosaica experiência de abrir uma conta em banco.
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