O mundo decidiu adiar em mais um ano o compromisso de controle das emissões de gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Adiaram o inadiável. A ideia de retardar o acordo veio justamente dos EUA e da China, nações que estão entre as mais poluidoras do planeta. O argumento das duas: ainda não estão em condições de assumir metas de redução. Acham prematuro fechar um número seguro em poucas semanas para apresentar na Conferência do Clima que acontece em Copenhague, no mês de dezembro.

Ficou então definido um prazo maior, até o final de 2010, quando efetivamente sairia o tratado com força de lei para combater o aquecimento global.
 
Nesse campo do aquecimento, a situação já é de calamidade. Nenhum país minimamente informado tem como negar. As mudanças do clima e a desordem nas estações tempestades de chuva, neve e granizo fora de hora, enchentes, furacões e tornados com força incomum avançam em cadência acelerada.
 
As grandes catástrofes naturais viraram corriqueiras e Copenhague apresentava-se como passo definitivo para virar o rumo desse processo. Pelo acertado na semana passada entre EUA e China, com a chancela de outros 18 países participantes do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, Copenhague vai agora se resumir a passo preliminar, com uma declaração de intenções dos participantes sobre o controle dos gases jogados na atmosfera.
 
Não haverá metas compulsórias, em especial por parte das maiores potências. A questão em jogo é puramente de ordem econômica e política. Por um lado, países temem comprometer o desenvolvimento de seus mercados. Por outro, esbarram em resistências internas, de empresários a parlamentares/lobistas.
 
Nos EUA, o Congresso impôs uma trava consistente nesse aspecto. Mesmo o projeto de corte de meros 17% sobre o nível atual de emissões, já enviado pela Casa Branca, foi barrado na saída. Por convicção, o líder do mundo livre, Barack Obama, manifestou seu interesse em resolver o problema, mas precisa de um apoio político que não tem.
 
No retrato do momento, o Brasil está se saindo melhor. Projetou-se na vanguarda da discussão ao estabelecer um generoso percentual de redução de emissões – de 36,1% a 38,9% – para o período de 2010 a 2020.Ainda não definiu exatamente como, em que prazo e a que custo irá cumprir esse objetivo. Mas surpreendeu economias desenvolvidas com uma meta concreta e pode se converter em líder do movimento de proteção ao planeta.
 
O presidente Lula quer mais. Está comandando uma reação para salvar Copenhague a partir de uma aliança que começou a costurar em sua passagem na semana passada pela Europa. França, Inglaterra e Itália, além de países da África e de uma parte da Ásia, todos sensíveis ao temor de que a demora pode provocar um cenário irreversível, pretendem assinar um manifesto, a ser lido por Lula, pedindo urgência nas medidas.
 
Parece miopia ou insensibilidade o descaso com que as grandes nações poluidoras tratam o tema. Se seguirem assim, vão ter que pagar um preço caro demais lá na frente.


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