21/02/2011 - 11:24
A missão líbia na ONU anunciou a ruptura da relação com o regime de seu país para apoiar os manifestantes, anunciou nesta segunda-feira o jornal Los Angeles Times. Os diplomatas, com a exceção do embaixador, tomaram esta decisão para se distanciar do governo de Muammar Kadhafi "devido às agressões do regime contra o povo líbio", destacou Adam Tarbah, um dos representantes líbios consultados pelo jornal. "Sabemos que isso colocará nossa família em perigo, mas de todo modo, já estão em perigo", completou Tarbah.
O diplomata fez alusão ao discurso feito na noite de domingo pelo filho de Kadhafi, Saif-al-Islam, que prometeu "combater até a última bala" para colocar fim às manifestações, explicou Tarbah. "Ele incitou a guerra civil", afirmou o diplomata líbio. "Foi vergonhoso". A violência na Líbia já afeta a capital, Trípoli, onde diversos edifícios públicos foram incendiados na noite de domingo para segunda-feira, quando o filho de Kadhafi ameaçou o país com derramamento de sangue.
Moradores de Trípoli afirmaram à AFP por telefone nesta segunda-feira que houve um "massacre" nos distritos de Tajura e Fashlum, na capital líbia, com tiros indiscriminados e mulheres entre os mortos. "O que ocorreu hoje em Tajura foi um massacre", informou um morador do distrito. "Homens armados atiraram indiscriminadamente. Há até mesmo mulheres entre os mortos", disse, acrescentando que os alto-falantes da mesquista faziam pedidos de ajuda.
Até agora, ao menos 233 pessoas morreram nos protestos, segundo uma contagem da organização Human Rights Watch, para quem 60 foram mortos no domingo em Benghazi, a segunda maior cidade do país e centro da revolta popular desde 15 de fevereiro.
Comunidade internacional
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, condenou nesta segunda-feira o uso "inaceitável" da violência contra civis na Líbia e disse estar "alarmado" com os confrontos na antiga colônia italiana. "Berlusconi está alarmado com o agravamento dos confrontos e com o uso inaceitável da violência contra a população civil", disse o governo em um comunicado.
"A União Europeia e a comunidade internacional devem fazer todos os esforços para evitar que a crise líbia se degenere em uma guerra civil", acrescentou. O comunicado pede uma "solução pacífica que garanta segurança para os cidadãos e integridade e estabilidade do país e da região como um todo".
O secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, afirmou nesta segunda-feira estar "chocado com o uso indiscriminado da violência" contra manifestantes na Líbia e pediu às autoridades que detenham a repressão contra civis desarmados.
Ocupação
Várias cidades líbias, entre elas Benghazi e Syrta, caíram nas mãos dos manifestantes depois de deserção do Exército, afirmou nesta segunda-feira a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), que antecipou um balanço de 300 a 400 mortos desde o início da rebelião. "Muitas cidades foram tomadas, principalmente no leste. Os militares estão debandando", declarou a presidente da FIDH, Souhayr Belhassen, citando principalmente Benghazi, reduto da oposição, e Syrte, cidade natal do coronel Muamar Kadhafi.
A polícia líbia debandonou no domingo da cidade de Zauia (60 km a oeste de Trípoli), que, desde então, está mergulhada no mais completo caos, informaram vários tunisianos que fugiram para Ben Guerdan (Tunísia), perto da fronteira entre os dois países. Várias cidades líbias, entre elas Benghazi e Syrta, caíram nas mãos dos manifestantes depois de deserção do Exército, afirmou nesta segunda-feira a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), que antecipou um balanço de 300 a 400 mortos desde o início da rebelião.
Mais de 2.300 tunisianos residentes na Líbia também abandonaram o país desde domingo por razões de segurança, informou a agência oficial tusinisiana TAP.
Saques
O prédio que servia de sede para um canal de televisão e uma rádio pública foi saqueado no domingo à noite por manifestantes em Trípoli, onde delegacias e escritórios dos comitês revolucionários foram incendiados, informaram testemunhas à AFP. De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Humans Right Watch (HRW), a violenta repressão aos protestos na Líbia já provocou 233 mortes até o momento. "Um local que abrigava o canal Al-Jamahiriya 2 e a rádio Al-Shababia foi saqueado", afirmou uma testemunha, que pediu anonimato.
A programação do canal e da emissora de rádio foi retomada nesta segunda-feira. A Al-Jamahariya 2, segundo canal público, e a rádio Al-Shababia foram criadas por um filho de Muamar Kadhafi, Seif al-Islam, em 2008, antes de serem nacionalizadas. Outras testemunhas afirmaram à AFP que prédios públicos foram incendiados na capital no domingo à noite, principalmente delegacias e escritórios dos comitês revolucionários, incluindo o da Praça Verde, cenário de violentos confrontos entre partidários e opositores do regime.
A violenta repressão das manifestações contra o regime de Kadhafi deixou pelo menos 233 mortos desde 17 de fevereiro, 60 deles apenas no domingo na cidade de Benghazi, segundo um novo balanço da HRW. "O balanço subiu a 233, segundo informações de fontes médicas na Líbia", destaca a organização não governamental, que tem sede em Nova York, em um comunicado divulgado em Paris. O balanço anterior da HRW registrava 173 mortes.
A cidade de Benghazi, a segunda maior da Líbia, localizada 1.000 km a leste de Trípoli, é o epicentro das manifestações que exigem o fim do regime de Kadhafi, há mais de quatro décadas no poder. Mais cedo, Seif al-Islam Kadhafi, filho do líder líbio Muamar Kadhafi, disse em entrevista à televisão que a Líbia está à beira da "guerra civil" e que a violência é resultado de um "complô estrangeiro".
Em Bruxelas, a ministra espanhola de Assuntos Exteriores, Trinidad Jiménez, afirmou que a União Europeia (UE) estuda retirar seus cidadãos da Líbia, em particular da cidade de Benghazi. "Estamos extremamente preocupados com a repressão aos protestos na Líbia, e estamos coordenando a possível retirada dos cidadãos da UE, especialmente de Benghazi", declarou Jiménez, antes de uma reunião de ministros europeus das Relações Exteriores.