Com olhos e mentes voltados para os Estados Unidos e a Europa, o Brasil pouco sabe do seu entorno. Se a cultura latino-americana contemporânea é uma referência distante, os hábitos e técnicas dos povos que habitavam as Américas antes da chegada de Cristóvão Colombo são completamente desconhecidos dos brasileiros. Injusto esquecimento para os que já viviam no continente há 18 mil anos e criaram técnicas e objetos que a humanidade desfruta até hoje. O chocolate, uma das mais desejadas guloseimas de nossos dias, era consumido em rituais dos habitantes dos Andes em 800 a.C. O uso de mandioca como alimento só foi possível graças às técnicas de modificação genética desses povos, pois em sua forma original o vegetal era venenoso. A correção periódica dos calendários em anos bissextos e vários métodos eficazes de irrigação e metalurgia foram inventados por eles. Uma boa forma de apresentar aos brasileiros a sofisticação cultural e científica dos povos pré-colombianos é a exposição Por ti América, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, onde ficará até janeiro. São 350 objetos representativos de 52 povos e sete países. Depois, parte da exposição será apresentada em São Paulo e Brasília.

A idéia da mostra foi do designer Alex Chacon, que ficou fascinado com a exposição sobre a África, apresentada no CCBB em 2003. “Nós ignoramos e rejeitamos nossas bases culturais. Está na hora de o brasileiro conhecer a própria cultura e a de quem está próximo de nós”, acredita. Onze instituições do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala, México e Peru enviaram peças representativas, que provam que a cultura pré-colombiana não está restrita aos incas, maias e astecas. Há objetos em ouro, cerâmica, tecidos e madeira. Toda essa tradição terá o apoio de tecnologia avançada: na rotunda do CCBB um cubo de 3m x 3m apresentará, através de um inovador sistema de projeção, o resumo da mostra. Junto com a exposição haverá também mostras de cinema e literatura latino-americanos. “O que está aqui não é uma cultura em extinção, já que nos influencia até hoje. Está viva”, afirma a arqueóloga da Universidade de São Paulo Marcia Arcuri, curadora da exposição.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias