A previsão é assustadora e já sacode o mundo. O mais esperado relatório sobre os efeitos do aquecimento global que assola o planeta sai neste final de semana dando relatos de caos climático. Chamado de Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), ele toma por base o cenário de aumento de três graus centígrados na temperatura média até 2100. A partir dessa expectativa, registra: 1,1 bilhão de pessoas enfrentarão falta de água em algumas décadas e 700 milhões vão passar fome, cerca de 10% das espécies hoje existentes na terra vão simplesmente desaparecer; o mar deverá subir de 58 centímetros a 1,4 metro e duas mil ilhas sairão do mapa. Fiji, no Pacífico, Bahamas e Santa Lucia, no Caribe, serão engolidas pelas águas. E essas são mudanças para daqui a pouco tempo. Não estão em um futuro longínquo. Segundo o relatório, as calotas polares e a neve deverão acabar nos Alpes centrais e a Grande Barreira de Corais da Austrália, maior organismo vivo do mundo, morrerá antes do final do século. Aqui no Brasil, entre os vários problemas a enfrentar, a Amazônia, pulmão do mundo, vai experimentar um aumento de dez graus centígrados no seu clima, acelerando um quadro irreversível de desertificação até 2070. Não é, pelo que alertam respeitados cientistas, um filme de ficção. Está acontecendo e só a humanidade, numa mobilização conjunta, terá poder de deter parte do processo. No total, mais de 3,2 bilhões de pessoas podem ser afetadas gravemente, o que equivale a mais da metade da população hoje existente. O estudo do IPCC confirma: entrou em curso uma nova, e mais inóspita, configuração planetária.

Todos costumam observar esses alertas com certo ar de resignação. Em especial autoridades de países ricos, como os EUA, maior emissor de gases danosos à atmosfera, que se recusam a fazer revisões no seu processo de industrialização. Agora a coisa é diferente. O próprio George Bush se mostrou espantado com a avaliação do IPCC. Conter os perigos do efeito estufa não se trata mais de bandeira de ecologistas extremados. Está em jogo a própria existência da espécie humana e do ambiente onde ela vive.