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PEIXES
Como eles, grupos humanos tendem a circular

O reino animal é uma fonte inesgotável de imagens incríveis. Peixes e aves, por exemplo, quando organizados em cardumes e bandos, formam grupos cuja sincronia parece inexplicável. No entanto, existe uma lógica por trás desse tipo de deslocamento, estudado há tempos por cientistas e biólogos.

“O agrupamento de animais tem diversas funções, como, por exemplo, confundir o predador, encontrar mais alimentos e aumentar as chances de achar um parceiro reprodutivo”, explica César Ades, pesquisador do Instituto de Psicologia da USP e especialista no estudo do comportamento animal.

 

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PÁSSAROS
Se 5% mudam de rumo, os outros fazem o mesmo
 

Agora, trabalhos sobre o tema estão ajudando pesquisadores a criar mais um campo do conhecimento: a nova ciência das multidões.

Os biólogos britânicos Jens Krause e John Dyer, da Universidade de Leeds, na Inglaterra, realizaram uma série de experimentos cujo objetivo era comparar aspectos como liderança e tomada de decisão entre grupos de animais e humanos. Em um deles, 200 pessoas foram colocadas numa área circular de 50 metros de diâmetro. Em seguida, foram orientadas a andar livremente pelo local e a permanecer a uma distância curtíssima dos companheiros. Por fim, receberam uma de duas ordens possíveis: ficar com o grupo ou caminhar até um determinado ponto limite.

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Os resultados, comparados a estudos anteriores feitos com animais, apresentaram resultados semelhantes. Os pesquisadores observaram que, quando pelo menos 5% dos indivíduos têm uma direção definida, os restantes tendem a seguir essa minoria, caracterizada como uma liderança.

“Não há um líder no sentido de alguém que dita as regras de deslocamento – como o general de um Exército –, mas sim indivíduos que influenciam os outros. E é esse o lado mais fascinante do experimento: os membros de um grupo simplesmente entram em harmonia com os mais próximos”, diz Ades.

Como indica o estudo britânico, em escala menor, esse tipo de comportamento pode ser observado em situações reais. Por exemplo, quando estamos em um prédio pela primeira vez e optamos pela entrada mais utilizada pelas pessoas ao nosso redor.

Mais do que encontrar semelhanças entre homens e animais, cruzar dados sobre o comportamento de diferentes grupos pode ser uma ferramenta importante para, por exemplo, entender como uma multidão se comporta numa situação-limite, seja em um estádio de futebol, seja numa manifestação religiosa. “Pesquisas como as de Dyer e Krause podem ser a base para melhorar a segurança de locais que concentram grandes massas, onde podem ocorrer situações de pânico”, diz o especialista em comportamento animal.

No entanto, como em qualquer comparação entre espécies, identificar semelhanças não significa encontrar comportamentos exatamente iguais. “As regras básicas do deslocamento em grupo podem ser comuns a seres humanos e outros animais. Isso é fantástico. Mas não se deve identificar totalmente um conjunto de pessoas com um cardume de peixes ou um enxame de abelhas. Cada espécie tem estratégias próprias”, finaliza Ades.

Meca, um laboratório

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SEGURANÇA
Tecnologia interpreta os movimentos dos fiéis
 

O estudo do movimento de multidões já é uma realidade na área de segurança. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Zurique, na Suíça, desenvolveram em 2007 um software chamado Crowd Vision, utilizado durante a peregrinação feita todos os anos por milhões de muçulmanos à cidade de Meca, na Arábia Saudita. O primeiro passo do projeto foi analisar imagens do evento captadas em 2006, ano em que uma série de incidentes causou a morte de mais de 300 pessoas.

A partir disso, os idealizadores do programa identificaram os padrões de deslocamento da multidão ao observar, por exemplo, como as pessoas se comportam em corredores, cruzamentos ou até mesmo numa situação de pânico generalizado. Em seguida, as informações foram inseridas no software, que consegue compará-las em tempo real às imagens das câmeras que fazem a segurança do evento ao vivo. Dessa maneira, a tecnologia permite que eventuais situações de perigo sejam previstas a tempo de se evitar novas tragédias.


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