Ele é careca e narigudo, usa óculos fundo de garrafa, tem um jeito de falar quase incompreensível. É confuso e não entende bem o que conversam com ele. O Porteiro Zé, um dos tipos mais engraçados da animação brasileira, é um sucesso justamente por isso. Criado em março de 2003 pelos amigos André Bernardes, André Leal, Daniel Mantovani e Ricardo Ramos, o personagem que começou na internet já explorou a televisão, o rádio e o conteúdo para celular. A próxima meta do quarteto é ir além dos clipes e virar seriado de televisão. “Seria um formato de 22 minutos, com oito minutos para intervalo, que é o padrão de programas como Os Simpsons”, diz Leal, o responsável, ao lado de Bernardes, pelos textos e pela dublagem dos personagens principais. O roteiro do programa-piloto batizado de A prima – está pronto e trata da chegada da prima de Maria, a senhora Zé, na rodoviária de São Paulo. O atrapalhado vai buscá-la e pega a mulher errada. O episódio fica pronto até o final do ano. “Vamos explorar o humor com os elementos da cidade, que não será imaginária, será São Paulo mesmo”, adianta Bernardes.

Diferentemente das participações do porteiro na rádio 89 FM, no jornal SPTV, da Rede Globo, e no Programa do Jô, o seriado não foi uma encomenda. Por isso, o grupo busca patrocinadores e um canal disposto a veicular as animações. “Foi nesse projeto que paramos para pensar quem é o Zé. Aprofundar o ambiente em que ele vive, os seus amigos. Fica bem claro que os moradores e os funcionários do prédio estão em dois mundos diferentes, apesar de morarem no mesmo lugar”, diz Bernardes. O grupo aposta nas imensas possibilidades que um prédio de apartamentos dá para a criação de outros personagens e por isso tratam o novo produto com muito carinho. “Queremos envolver mais pessoas, pensar bem em tudo. Fazemos discussões com outros dez amigos. Sempre saem coisas boas”, diz Leal. No futuro, esperam que as histórias não fiquem apenas em torno do porteiro, mas também dos moradores do edifício.

Até agora já fizeram cerca de 150 historietas em vídeo com um minuto que trazem o atrapalhado em ação. São Paulo, por exemplo, está cheia de tipos parecidos. Os próprios porteiros confirmam as semelhanças, embora digam que o Zé é sempre o porteiro do prédio ao lado e não eles. As primeiras propostas de usar o personagem em comerciais partiram de agências de publicidade admiradas com o sucesso do site www.porteiroze.com, lançado sem pretensões. Depois de fazer a voz do Zé em seis episódios, Bernardes foi para Londres. Com os convites para os comerciais e programas de rádio e tevê, foi intimado a encurtar a estadia. A viagem foi um bom laboratório. O analista de sistemas trabalhou um período como porteiro. “Eu era o Zé. Mal falava inglês”, diverte-se. Mantovani e Ramos pediram demissão de seus empregos e Leal, que procurava trabalho como ator, juntou-se à trupe. Os amigos de escola viraram sócios e criaram a QOQZÉ Produtora. Em maio do ano passado o time se mudou para uma agradável casa no bairro paulistano de Perdizes com dois computadores. Hoje a produtora têm três funcionários, um miniestúdio para a gravação da dublagem e sete computadores.

Embora o foco da turma seja o seriado, eles também pensam em lançar camisetas e um DVD com as aventuras do porteiro. Um filme, por enquanto, está fora dos planos. O escritório dos amigos é o sonho de muita gente. Na sala de Ramos e Mantovani, responsáveis pela animação, um Playstation 2 está a postos para os momentos de descanso. Mas o trabalho é duro. Várias madrugadas foram atravessadas, principalmente nos primeiros meses, quando o domínio dos criadores sobre os softwares de animação não era completo. Só não ficaram ricos, embora vira e mexe alguém apareça com propostas mirabolantes envolvendo o divertido Zé.