Às vésperas do verão, cresce a procura pela colocação de piercing, uma moda que veio para ficar. No entanto, o que é para ser um adorno se revela um perigo para a saúde. Algumas pesquisas corroboram a estimativa do professor de terapias complementares Kioshi Kokuti, dono de cinco clínicas no Rio de Janeiro especializadas em técnicas orientais como acupuntura. Segundo ele, cerca de 3% das pessoas que furam a orelha, por exemplo, apresentam problemas até dez anos depois e, após esse prazo, o porcentual sobe para 25%. Entre as complicações, estão infecções e até danos na coluna. Isso porque, segundo a medicina oriental, existem no corpo “pontos” vinculados aos órgãos (esses locais concentrariam energia associada a áreas do organismo). E, quando se coloca um piercing – ou um brinco – em um deles, o funcionamento do órgão correspondente ficaria prejudicado. “Há perfurações que obrigam o órgão a trabalhar de maneira instável”, diz Kokuti. Segundo ele, piercing na língua pode provocar bruxismo (ranger de dentes noturno) e, se colocado no umbigo, pode danificar o sistema de defesa do organismo.

Mas o piercing não representa um perigo somente na visão oriental. Vários estudos da medicina ocidental apontam riscos. Um deles foi feito na Universidade de Santo Amaro, em São Paulo, com 60 pessoas que tinham piercing na língua havia dois anos. Resultado: 40% tinham inflamação crônica acentuada no local e 12 voluntários apresentavam lesões em estágio avançado. “As lesões podem sumir após a retirada do piercing ou se transformar em tumor benigno ou maligno”, diz o dentista Artur Cerri, da instituição.

No Rio de Janeiro, a dermatologista Roberta Bibas já viu muitos pacientes com problemas. “Há vários casos de alergia e infecção”, conta. Aparecem ainda jovens apresentando o chamado granuloma piogênico, uma complicação que torna a área avermelhada e vulnerável a sangramentos. Sem contar o risco de contaminação por HIV (responsável pela Aids) ou por outros agentes causadores de doenças, como a hepatite, devido ao uso de instrumentos infectados.